Moradias irregulares, deficiências no transporte público e abandono dos espaços públicos são apenas alguns dos problemas que existem na cidade de Salvador. Tais problemas foram discutidos na mesa “Dinâmica de uma metrópole periférica: Salvador no século XXI”, que ocorreu nesta quarta (14), na Faculdade de Arquitetura (FAU) da Universidade Federal da Bahia.
O evento foi organizado pelo Observatório das Metrópoles, um grupo que reúne pesquisadores de diversas cidades brasileiras e estudas os territórios compostos pelas grandes aglomerações urbanas do país. O evento está ainda dentro do eixo temático “Direito à Cidade” do Fórum Social Mundial 2018, que está sendo realizado na capital baiana.
A mesa não deixou de lembrar a tragédia ocorrida na última terça (13) na periferia de Salvador, com a queda de um edifício construído em lugar irregular, que vitimou quatro pessoas. “Temos uma cidade com muitas encostas, áreas de morte anunciada, fruto de uma herança perversa que destinou muitas pessoas a morarem nesses locais. Elas não estão lá por escolha e sim por falta de opção”, destacou a professora Inaiá Carvalho.
A professora lembrou ainda que Salvador possui centenas de áreas de risco de desabamento e que não há perspectiva de resolução desse problema, como de diversos outros que são de difícil superação. “O próprio PDDU [Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano] não se voltou efetivamente a essa questão. (...) O caminho que estamos trilhando aqui em Salvador não é favorável”, afirmou.
Mais esperançosa, a professora Claudia Monteiro destacou que a própria realização do Fórum Social Mundial já é um sinal de esperança para que os problemas da cidade sejam solucionados: “só o fato de termos no fórum o eixo temático “Direito à Cidade”, que está debatendo tantas coisas importantes, é um alento frente a uma situação tão difícil como essa”, apontou.
Metrópole periférica
Todas as contribuições feitas no debate constatavam o desenvolvimento histórico de Salvador como responsável pela sua configuração como metrópole periférica. A partir da década de 1970, com a criação do Polo Industrial de Camaçari e do Centro Industrial de Aratu, muitas pessoas foram atraídas a Região Metropolitana de Salvador (RMS) que se desenvolveu de maneira desordenada.
Para a professora Maria das Graças Gondim, o crescimento urbano e industrial da região causou diversas crises socioambientais de difíceis resoluções, principalmente na área da mobilidade urbana, em toda a RMS. Movida pelo lema do Fórum Social Mundial “Resistir é criar, resistir é transformar”, ela aponta como perspectiva uma mudança no padrão de governabilidade para que haja de fato uma governança da RMS. Em outras palavras, ela defende “a aplicação de políticas integradas entre as diversas cidades que compõem a região metropolitana e entre as esferas de governo municipal, estadual e federal, de modo que os problemas socioambientais possam ser superados”.
Dentre as configurações que se observam nessa metrópole periférica, diversas constatações foram apresentadas ao público. Gilberto Corso destacou o financiamento de campanha como causador da priorização dos interesses mercantis pelo governo; Claudia Monteiro apresentou a tendência de muitos moradores da classe alta de Salvador estarem se mudando para a cidade de Lauro de Freitas, que apresenta novas oportunidades de moradias com condomínios fechados; Juan Pedro lembrou os problemas de mobilidade urbana enfrentados pela cidade e Rafael Arantes destacou a tendência atual de abandono dos espaços públicos E o crescimento de espaços de lazer privados e pela generalização da cultura da insegurança e do medo.