Para traçar um diagnóstico da relação truncada do Brasil quanto à construção de um projeto nacional, é necessário retornar ao período da Colonização, quando o país “foi programado e formatado por interesses mercantis. O interesse do colonizador era o acúmulo de capital para a metrópole, abrindo mão de desenvolver uma nação soberana”, explicou Juliane Furno, doutoranda em Desenvolvimento Econômico na Unicamp na mesa “Brasil e a crise de destino: A ausência de um projeto nacional”, na última quinta-feira (15), no Auditório da Faculdade de Direito da UFBA.
“Pensar um projeto nacional é, acima de tudo, uma tarefa revolucionária. É necessário planejá-lo a fim de subverter essa lógica colonizadora e que priorize a defesa das nossas necessidades enquanto povo” completou.
As discussões da mesa indicam que construir a entrada do povo na história, considerando sua capacidade inventiva, a diversidade cultural e étnica, a resistência e a criatividade, segue sendo o principal desafio de quem quer mudar o Brasil. Para isso, a esquerda deve renovar pensamento e prática.
É pensando nisso que organizações, intelectuais, artistas, sindicalistas e coletivos estudantis estão trabalhando na construção do Projeto Brasil Popular. “O centro de nossa luta está em organizar uma alternativa popular que recoloque na ordem do dia a necessidade de alterar o sistema de poder para realizar mudanças estruturais”, apontou José Antônio Moroni, membro do colegiado de gestão do Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc).
Para Nágila Maria, Diretora de Comunicação da União Nacional dos Estudantes (UNE), “apesar de resistirmos indo às ruas, fazendo mobilizações, protestos, a verdade é que nós estamos sofrendo sucessivas derrotas. Então este é o momento para nos unirmos”. Essa opinião é compartilhada por Márcio Pochman, economista e político filiado ao PT, “É um momento de desânimo, na medida em que crescem as forças antidemocráticas, mas temos a perspectiva de que a força da classe trabalhadora é o nosso estímulo para seguir em frente”.
Segundo ele é necessário pensar um projeto que seja contemporâneo aos desafios dos brasileiros, que permita “que o povo esteja realmente inserido no orçamento público, e de forma digna, buscando ampliar a democracia representativa no mundo, sustentando o crescimento econômico em torno da inclusão social”. De acordo com Moroni, “o cumprimento dessa tarefa histórica exige trabalhar na construção de uma força social capaz de atuar de maneira decisiva numa reascensão da luta de massas, implicando num país politicamente democrático”.
Na oportunidade, foi anunciada a construção do Congresso do Povo Brasileiro, algo inédito na cena política e social brasileira, programada para o primeiro semestre de 2018. O Congresso tem como objetivo construir, com o povo e para o povo, o novo projeto de nação. Milton Rezende, diretor executivo da Central Única dos Trabalhadores (CUT), afirmou que para o Congresso “o que está em jogo é a nossa capacidade de organização e mobilização para apresentar propostas e resgatar os direitos básicos que estão sendo ceifados”. Para Juliane Furno o congresso será a oportunidade de “submeter o projeto ao crivo do povo brasileiro, para que assim possa ter a adesão”.
A mesa contou ainda com apresentações de poesias e paródias de militantes do Levante Popular da Juventude com as temáticas desigualdades sociais e raciais, em anúncio ao Congresso do Povo e em protesto a morte da ex-vereadora do Rio de Janeiro, assassinada na última terça-feira (13), Marielle Franco.