Que a UFBA é uma verdadeira cidade dentro da cidade – que ocupa quase 1% do território de Salvador – todo mundo já sabia. Mas visualizar essa cidade inteirinha e percorrê-la virtualmente, em coisa de minutos, são experiências novas que um grupo multidisciplinar de professores, técnicos e estudantes começou a proporcionar à comunidade universitária a partir deste mês de abril. Eles confeccionaram uma maquete detalhada do campus, que está exposta na Reitoria, e criaram um site que permite passear virtualmente pela área física da universidade.
São os primeiros resultados do projeto Maquete dos Campi da UFBA, que envolve quatro unidades da Universidade: a Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU), a Escola de Belas Artes (EBA), o Instituto de Humanidades, Artes e Ciências (IHAC) e o Instituto de Matemática. “Recebemos a provocação do reitor [de produzir uma maquete da Universidade] e fizemos uma contraproposta: a de que faríamos, desde que os estudantes não precisassem pegar no estilete”, conta a professora Naia Alban, diretora da Faculdade de Arquitetura e coordenadora geral do projeto, que vem sendo todo desenvolvido com a utilização de novas tecnologia.
Para além do efeito lúdico de poder ver a UFBA em miniatura ou brincar no campus 3D, como nos jogos de videogame, as maquetes física e digital têm a função de auxiliar a administração da Universidade no planejamento e no uso do espaço. “A maquete nos ajuda a abstrair, a ter uma representação melhor do espaço físico. É um subsídio para nos ajudar a pensar o campus, a experimentar possíveis mudanças e soluções”, afirma Naia Alban. Presidente da Comissão de Patrimônio, Espaço Físico e Meio Ambiente da UFBA, que é ligada ao Conselho Universitário, ela ressalta a necessidade da construção de um novo Plano Diretor para a Universidade. “A maquete nos ajudará a visualizar obras e planejar melhor nossa expansão. Enxergar a vizinhança, as comunidades que nos cercam… a universidade precisa de uma melhor fachada para a cidade. ”
Ao todo, 16 estudantes bolsistas (quatro de cada unidade envolvida) fazem parte do projeto, que conta com apoio do corpo técnico-administrativo e orientação da coordenadora e dos professores Érica Checcucci, da FAU, Maria Emília Regina e Taygoara Aguiar, da EBA, Paulo Gomes, do IHAC e Antonio Apolinário Jr, Karl Agüero e Rodrigo Rocha, do Instituto de Matemática, além de outros voluntários. A maquete do campus de Ondina está exposta no salão ao lado esquerdo do saguão da Reitoria. A maquete virtual pode ser acessada no site http://maquete.ufba.br/
Tecnologia construtiva
O projeto prevê a produção de maquetes físicas em escala de 1:500 (1 centímetro na maquete = 5 metros no real) de todos os campi da UFBA: Ondina, já concluída e que inclui o campus de São Lázaro e as unidades da Federação; Canela, que inclui hospitais e Reitoria e já está com os todos os edifícios modelados, mas ainda não exposta; e a próxima a ser produzida, Vitória da Conquista. Como os campi de Ondina e Canela são descontínuos, as maquetes também não têm continuidade territorial, pois seria preciso reconstituir trechos imensos da cidade.
Para confeccionar os prédios, nada dos arcaicos papéis, estiletes, tesoura e cola. Toda a produção da maquete foi feita utilizando novas tecnologias: a criação de modelos numéricos (protótipos de cada item) foi feita em computador; a fabricação digital das miniaturas foi feita utilizando as impressoras 3D do IHAC Lab-i, da EBA e da FAU; e o terreno foi confeccionado utilizando uma máquina de corte a laser.
A professora Maria Emília, da EBA, explica o processo de fabricação das maquetes desde o início. “Começou com a delimitação do campus, pensando no que entra e no que fica de fora, bem como no desenvolvimento de módulos para a representação dos campi com respeito à escala e às dimensões de corte. ” Em seguida, veio a preparação dos arquivos digitais do terreno e a modelagem dos edifícios, elaborados a partir de dados do Sistema Cartográfico da Região Metropolitana de Salvador, além de informações da SUMAI e de um levantamento de campo. As edificações foram fabricadas através de impressoras 3D, utilizando polímeros nas cores branca, para unidades da UFBA, e marrom, para construções vizinhas. Para a confecção do terreno, foi construído um arquivo digital para cada camada de terra, cada curva de nível, e, a partir daí, a máquina de corte a laser cortou o papel couro, com espessura de 2 milímetros representando 1 metro de altitude.
Maquete virtual e jogos 3D
As possibilidades de visualização e planejamento do espaço físico da UFBA são potencializadas pela maquete virtual. “Podemos fazer projeções, simulações, estudos de luz e sombra…”, conta o professor Antônio Apolinário Jr, coordenador do projeto no Instituto de Matemática (Departamento de Ciências da Computação).
O trabalho dos cientistas da computação também tem sido duro. Eles criam virtualmente os prédios e terreno a partir dos modelos construídos pelas equipes da FAU e da EBA. Mas, como estes modelos são simplificados – uma vez que têm por objetivo a impressão em uma escala onde detalhes não são percebidos – a equipe do Instituto de Matemática teve que sair a campo e tirar fotos para construir as texturas e o acabamento fino, garantindo uma aparência mais próxima da realidade.
Diferente dos populares google maps e google earth, que trabalham apenas com imagens em 2D, a maquete virtual parece um verdadeiro jogo virtual em primeira pessoa: trata-se de um ambiente tridimensional, em que é possível andar livremente pelo campus (seria possível até mesmo entrar nos prédios, se o interior deles fosse modelado). O trabalho teve tantos detalhes que foi necessário fazer uma simplificação, e vegetações foram removidas, a fim de tornar o “jogo”mais leve e ocupar menos memória nos computadores dos usuários.
A maquete virtual foi montada em um ambiente de motor de jogos – ou seja, um software em que podem ser construídos jogos 3D – o que permite o desenvolvimento de novos produtos, uma vez que já há todo um arcabouço computacional pronto. A UFBA tem uma pequena, mas sólida experiência nesta área: o professor Rodrigo Rocha, um dos responsáveis pelo projeto, participou em 2003 da criação de um grupo de estudantes, o Indigente (Interactive Digital Entertainment). “Nesta época, éramos todos estudantes, e construímos um passeio virtual por dentro do PAF, que apresentamos na recepção de calouros. Já havia um desejo de representar o espaço através de mídia interativa, que volta agora a ser fortalecida através da maquete virtual”, conta. O grupo, segundo o agora professor Rocha, está sendo reabilitado.
Na página, que já está no ar, há também a possibilidade de passear por percursos específicos. O grupo Docomomo, da Faculdade de Arquitetura, mapeou todos os edifícios modernistas do campus e, ao lado das edificações, é possível ver fotos antigas, com identificação do ano de inauguração e do arquiteto responsável.
Fonte: EdgarDigital.