Visibilidade e maior inserção na política são os principais desafios da pauta indígena brasileira atual. Hoje, durante o Fórum Social Mundial, a Mesa Movimentos Indígenas e o Fazer Político Contemporâneo, parte da programação da Universidade Federal da Bahia, reuniu lideranças que ressaltaram esse posicionamento como uma quebra de paradigmas e início de uma nova era na luta pelos direitos desses povos.
O encontro conduzido pelo pesquisador Rafael Xucuru Kariri, atualmente em trabalho na Faculdade de Ciências Humanas da UFBA, reuniu o advogado Dinamam Tuxá - coordenador executivo da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), a artista plástica Arissana Pataxó, o advogado Luiz Eloy Terena, assessor jurídico da Apib, e a educadora e lider indígena Nádia Tupinambá, para debater com o público sobre os desafios enfrentados.
“Há uma queda de braço desigual entre os povos indígenas e os políticos. Precisamos ocupar espaços nas esferas de poder”, observou Dinamam Tuxá. Para que seja possível o “debate de igual para igual”, o advogado defende uma necessária participação político-partidária do movimento e adianta que já estão sendo articuladas em diversos estados candidaturas de lideranças indígenas para as próximas eleições.
Enquanto a Bahia terá um candidato a deputado estadual, o Brasil já tem a enfermeira Sônia Guajajara concorrendo como vice-presidente na chapa de Guilherme Boulos, pelo PSOL . “Somos o povo mais antigo desse território e é de fundamental importância a participação política para garantia de nossos direitos”, pontuou Tuxá.
Nesse contexto, a ponta de lança das reivindicações continua sendo a garantia dos territórios indígenas. “Hoje é a nossa grande luta, na qual estão implicadas todas as outras questões, sejam culturais, sociais ou ambientais”, explicou Arissana Pataxó. Com seu trabalho de temática indígena a artista contribui para a visibilidade da causa. Como parte da programação do Fórum, ela realiza a exposição Resistência, reunindo dez de seus quadros.
“Acredito que as obras sejam uma janela para um possível diálogo. Na medida em que as pessoas têm seu interesse despertado pela arte, são capazes de perceber a nossa presença no cotidiano e, consequentemente, a necessidade da garantia de nossos direitos”, afirmou a artista plástica.
O advogado Luiz Eloy Terena lembrou que esse protagonismo indígena está se fazendo cada vez mais presente. “Têm sido frequentes nossas ocupações e mobilizações. Nossas comunidades estão, em várias instâncias, fazendo política e há muito denunciamos práticas nocivas no Congresso Nacional, por exemplo. É algo em que temos muito a contribuir para a sociedade. Estamos lutando pelos nossos direitos e vocês deveriam fazer o mesmo”, incentivou.
Posição partilhada pela educadora Nádia Tupinambá, que apontou para o imperativo da união de forças na luta por uma realidade diferente. “É hora da mudança, temos que mostrar o que somos e porque precisamos ocupar esse espaço. E não estamos fazendo só por nós, mas por todo o país”, ressaltou. Lembrando o lema do Fórum – Um outro mundo é possível – Nádia Tupinambá conclamou o público a participar. “É possível? Então comecemos a fazer nossa parte. Se querem se juntar a nós, sejam bem-vindos!”.
A mesa Movimentos Indígenas e o Fazer Político Contemporâneo integra o eixo temático “Povos Indígenas”, do Fórum Social Mundial, que terá suas atividades basicamente concentradas no Pavilhão Glauber Rocha (antigo PAF III). Também foram realizadas ontem as mesas Proteção e Promoção dos Povos Indígenas Isolados e A Pesquisa e o Ensino das Línguas Indígenas na Bahia e os Desafios da Educação Escolar Diferenciada. Além disso, foi exibido o documentário Piripkura, que mostra dois sobreviventes do povo Piripkura, que vive em uma área protegida da floresta amazônica cercado por fazendas e madeireiras.
Ainda em sintonia com a questão indígena brasileira contemporânea, a UFBA exibe a exposição “Índios Korubo: Vale do Javari”, do fotógrafo Sebastião Salgado, uma referência na fotografia internacional também quando se pensa em denúncias sociais. A mostra é composta por 15 fotografias e chama atenção para os desafios e formas de resistência de uma tribo que apenas recentemente entrou em contato com os não índios. A consequência dessa aproximação é que hoje os índios estão vulneráveis não só a doenças comuns para outros povos, para as quais não possuem resistência, como também enfrentam as pressões econômicas dos que desejam explorar seu território.