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Docente da UFBA é citado na revista New Scientist

Biologia é ciência da informação


 

A edição de agosto da revista New Scientist publicou editorial tratando das pesquisas mundiais sobre biossemiótica. Entre as referências mundiais citadas está o professor do Instituto de Biologia da UFBA Charbel El-Hani, que explica por que construir uma teoria da informação biológica: “A biologia, na última década, a partir do impacto dos projetos genomas, vem passando por uma guinada anti-reducionista, apesar de aqueles projetos terem sido, historicamente, a culminação do reducionismo na biologia. Talvez um dos resultados mais importantes daqueles projetos, como argumenta a filósofa da biologia Evelyn Fox-Keller, tenha sido mostrar que não podemos compreender os sistemas vivos ao nível de suas letras mais fundamentais, por assim dizer - ou seja, ao nível das sequências de nucleotídeos do DNA. A partir disso que chamei de guinada anti-reducionista, a biologia tem se lançado na tentativa de compreender as redes complexas pelas quais a informação biológica flui nas células e para além das células. Isso resultou na chamada 'biologia de sistemas', cuja natureza não está, contudo, inteiramente clara. Seja como for, cientistas chave nesta nova corrente da pesquisa biológica têm afirmado que, na esteira da biologia de sistemas, fica ainda mais claro que a biologia é uma ciência da informação. Isso foi afirmado, por exemplo, por Leroy Hood, que coordenou a iniciativa pública de seqüenciamento do genoma humano.

Contudo, há um problema de base, ainda não resolvido: o que é informação biológica? A biologia usa uma linguagem da informação desde os anos 1950, como atestam as expressões 'informação genética', 'sinalização celular', 'transcrição', 'tradução' etc. Era de se esperar que houvesse um conceito bem definido de informação sendo usado na biologia. Este não é, contudo, o caso. O mais preciso que temos é um uso da teoria matemática da comunicação, de Shannon e Weaver, no contexto da biologia. Esta teoria define 'quantidade de informação' como uma medida da probabilidade de seleção de uma mensagem particular dentro do conjunto de todas as mensagens possíveis. Ela foi elaborada durante a segunda grande guerra para detectar, em sinais de rádio, mensagens criptografadas. Para isso, ela é uma boa saída. Contudo, como seus próprios autores reconhecem, ela é insensível ao significado da mensagem. Ela é, pois, uma teoria não semântica da informação. A biologia necessita, por sua vez, de uma teoria semântica da informação, ou seja, uma teoria que considere o significado da informação e o contexto de sua interpretação.

Ou seja, não basta uma teoria que dê conta da dimensão sintática da informação, precisamos da dimensão semântica e pragmática. Para apoiar esse ponto, basta considerar que a alteração de um único par de nucleotídeos no DNA tem como resultado não mais uma hemoglobina normal, mas uma hemoglobina disfuncional, que dá origem à anemia falciforme. Se calcularmos a quantidade de informação, com base em Shannon e Weaver, esta diferença de um nucleotídeo não alterará a medida feita. Contudo, para a célula, e o organismo, a mensagem tem significado completamente diferente. Necessitamos, pois, se a biologia de sistemas recente é uma teoria da informação, construir, enfim, uma teoria da informação biológica. Esta é uma das razões que tem levado uma série de pesquisadores, como é o meu caso, a apostar na semiótica como base para a construção de tal teoria. Em particular, tenho apostado na teoria pragmática do significado do filósofo, lógico e cientista norte-americano Charles Sanders Peirce como base para tal teoria, o que foi desenvolvido em uma série de artigos e em livro que publiquei, junto com João Queiroz (UFJF) e Claus Emmeche (Universidade de Copenhagen), em 2009: Genes, Information, and Semiosis (http://www.amazon.com/Genes-Information-Semiosis-Semiotics-Library/dp/994919038X/ref=sr_1_1?ie=UTF8&s=books&qid=1282821974&sr=8-1).”