MOÇÃO
O Conselho Universitário da Universidade Federal da Bahia, reunido em 13.11.2017, aprovou, por unanimidade, a moção de repúdio proposta pela Conselheira Maria Hilda Baqueiro Paraíso, Diretora da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, manifestando a indignação dos Conselheiros diante das tentativas de cerceamento de todo um campo de produção do conhecimento científico no qual a Universidade Federal da Bahia é, há décadas, referência, a saber, os estudos sobre gênero, diversidade, mulheres e feminismo.
Em episódios recentes, verificamos ameaças de morte e outros tipos de violência contra uma de nossas docentes, pesquisadora do NEIM (Núcleo de Estudos Interdisciplinares sobre a Mulher); a tentativa de impedimento de defesa de uma dissertação de Mestrado de aluno do IHAC (Instituto de Humanidades, Artes e Ciências), tendo que solicitar a segurança da própria Universidade; e a perseguição e ridicularização nas redes sociais de projetos de pesquisa e extensão que versam sobre essas temáticas.
Tais iniciativas obscurantistas não têm se restringido à nossa Universidade. Vimos também elas se estendendo contra eventos científicos, práticas culturais, artísticas e intelectuais, por meio não apenas de ataques virtuais, mas também de cancelamento de exposições e censura à peça de teatro. Assistimos perplexos à tentativa de cerceamento e agressão à filósofa Judith Butler, que em 2015 acolhemos com tanta satisfação na UFBA. Também nos deixa estupefatos o inquérito policial instaurado contra um projeto de pesquisa de um professor da Universidade Federal de Ouro Preto, assim como a tentativa de aprovação de diversos projetos de lei que violam frontalmente a Constituição Federal e Tratados e Convenções em Direitos Humanos vigentes.
O clima de intolerância que se estabeleceu neste País vem repercutindo de forma drástica na liberdade de expressão, no livre exercício profissional e na autonomia universitária para tratar de temas relevantes concernentes a determinados segmentos sociais. As reações virulentas e ameaçadoras, particularmente no âmbito acadêmico, vêm tomando proporções assustadoras e desrespeitosas.
Nos posicionamos, portanto, contrários às investidas reacionárias que buscam calar o livre debate de ideias e silenciar todo um campo de estudos legitimamente construído e que é fundamental para que possamos ter uma sociedade menos violenta e desigual. A perseguição à liberdade de expressão cultural e científica nos envergonha e nos ultraja e é uma afronta aos princípios da democracia.
Palácio da Reitoria, 13 de novembro de 2017.
João Carlos Salles Pires da Silva
Reitor
Presidente do Conselho Universitário