Começa na segunda-feira o Pint of Science, um festival internacional de divulgação científica lançado em 2012, no Reino Unido, que, por três noites seguidas, invade bares pelo mundo afora com papos descontraídos sobre ciência. Neste ano, o evento acontece de 15 a 17 de maio, em centenas de cidades de 10 países simultaneamente, 22 das quais no Brasil – entre elas, pela primeira vez, Salvador.
A capital baiana entrou no circuito graças ao olhar atento de Denis Soares, professor e vice-diretor da Faculdade de Farmácia, que tão logo viu as inscrições para o festival abertas, apresentou a candidatura de Salvador. Sacramentada a participação, Denis buscou o apoio institucional da UFBA, e é assim que chegamos ao primeiro Pint of Science baiano.
Barravento, Caranguejo do Porto e RedBurguer N Bar, os dois primeiros na Barra e o terceiro na Pituba, são os bares soteropolitanos que vão juntar pesquisadores da UFBA das mais diferentes áreas com o público em geral, num ambiente solto o suficiente para ninguém se inibir com as perguntas que deseja dirigir a quem vive comprometido em decifrar mundos e produzir conhecimento.
Mais que palestras, são conversas em torno de instigantes temas das ciências e das humanidades que devem acontecer nos três dias do festival, sempre a partir das 19:30. Um bom papo de bar, digamos assim.
Confira a programação e faça suas escolhas:
Segunda-feira, 15 , 19:30
No Barravento, Avenida Oceânica, 814, Barra, os interessados em filosofia terão a possibilidade de conversar com o filósofo João Carlos Salles, reitor da UFBA, que vai explorar uma interrogação: “O que é conhecer?”.
“Devo falar sobre algumas condições lógicas que garantem o conhecimento, que se mostra assim dependente de estruturas da razão, mas também de pactos sociais. Para tanto, a relação entre conhecimento, crença e evidência será discutida à luz do chamado problema de Gettier”, antecipa Salles.
Quase em frente ao Barravento, no Caranguejo do Porto, Avenida Oceânica, 819, Barra, os interessados e preocupados com os assuntos do meio ambiente podem ouvir Eduardo Mendes, professor do Instituto de Biologia, conversando sobre “A história ambiental da Baía de Todos os Santos”.
Muitos de nós, mais velhos, ainda dizemos que moramos na Bahia, quando nos referimos à cidade de Salvador. A Bahia é o que é por conta da baía de Todos os Santos, o seu acidente geográfico mais conhecido e referencial de vida para um grande mundo de gente. O encontro dos portugueses com a baía de Todos os Santos trouxe um monte de mudanças ao longo desses 456 anos ou coisa assim. Às suas margens ergueu-se a primeira capital do Brasil e com ela a exploração dos seus recursos naturais – pesca, caça, e uso e abuso de suas águas e da Mata Atlântica que a circundava, e os rios associados foram desaparecendo, dando lugar a novas paisagens agrícolas, depois, urbanas. Hoje, a baía serve até como estacionamento de navios e novo ninho para muitas espécies exóticas invasoras. Suas populações mais tradicionais tentam ainda sobreviver e manter os seus costumes e ritos, com muita dificuldade. A apropriação de seus recursos pela indústria é brutal, tudo em nome de uma certa noção de desenvolvimento. Triste Bahia, terminaria hoje, mais uma vez Gregório de Matos, ó quão dessemelhante.
Já no RedBurguer N Bar, Rua Alexandre Herculano, 45, Pituba, os interessados em história e cultura africana podem conferir o bate papo com a historiadora e professora do curso de História da UFBA Wlamyra Albuquerque, que vai falar um pouco sobre “Que negros são esses?”
Terça-feira, 16, 19:30
No Barravento,os interessados em física moderna podem participar do bate papo cujo tema é “ O Universo dos quanta”, com o físico, historiador da ciência, professor e pró-reitor de Pós-graduação e Pesquisa, Criação e Inovação Olival Freire.
“Expressões como ‘cura quântica’, ’empresa quântica’, ‘saúde quântica’ e ’emaranhamento quântico’ são parte da teoria quântica? A teoria quântica, a mais precisa teoria física já criada, portadora de invenções úteis como o laser, tem sido também motivo de desconforto entre os físicos quanto ao bom estado de seus fundamentos. Venha debater conosco o sentido desta teoria científica e suas variadas e nem sempre saudáveis implicações culturais”, convida Olival.
No Caranguejo do Porto, os interessados em democracia digital podem aprender mais no bate papo com os pesquisadores e professores da Faculdade de Comunicação Othon Jambeiro e Wilson Gomes:
“A mídia e grande parte dos trabalhos acadêmicos na área das relações entre comunicação, política, e governo, pensa geralmente em grandes temas: nos embates ideológicos da humanidade, no Trump, na União Européia, no Brexit, no Macron, na Angela Merkel, nas eleições brasileiras, na enfadonha luta entre o PT e o PSDB. Não estão errados, com certeza. Estes são assuntos importantes que merecem estudos acadêmicos senão para resolvê-los, pelo menos para melhor conhecê-los”, afirma o professor Wilson Gomes. “Minha pesquisa, contudo, pensa pequeno: quero conhecer melhor os governos municipais, em termos de democracia digital, saber como vêem as tecnologias de informação e comunicação (TICs) e se as usam para atingir objetivos cívicos e administrativos. Para isto, pesquisei os planos diretores de 283 municípios brasileiros, dentre os 1.758 que estão obrigados pela Constituição a terem este tipo de plano, procurando localizar neles indicações de uso das TICs para capacitação de cidadãos, eficiência e transparência da gestão. Além disso, vasculhei seus websites, buscando identificar ferramentas que permitam aos cidadãos participação cívica e controle social da gestão. Os resultados não não animadores, mas há ainda muito caminho a andar para apurar conhecimentos sobre o Município, este partícipe do tripé que, como consta da Constituição de 1988, forma a república brasileira, junto com a União e os Estados, três entes autônomos entre si. Na verdade, uma disposição constitucional mais utópica do que verdadeira, já que os 5.570 municípios não têm tido qualquer chance na luta contra os 27 estados e o governo federal.”
No RedBurguer N Bar, os amantes da cerveja podem se surpreender no bate papo com o pesquisador, Celso Duarte C. Filho e o professor da Faculdade de Farmácia, Rodrigo Moloni Leão, sobre o tema “Cervejas Artesanais e o Álcool: malvado favorito?”
“A cerveja é uma bebida muito antiga e muito apreciada no mundo inteiro. Infelizmente, a percepção de muitos com relação a esta bebida é a de só relacionar com malefícios à saúde humana. Cervejas artesanais, elaboradas com malte de cevada, lúpulo, água e leveduras, além de apresentarem qualidades sensoriais superiores às cervejas que são produzidas em massa, apresentam constituintes nutricionais benéficos à saúde já comprovados cientificamente. A frase ‘beba menos, beba melhor’, resume bem este debate sobre cerveja.”
Na quarta-feira, 17, 19:30
No Barravento, quem se interessa pela área da saúde pode conferir o bate papo com a pesquisadora e professora do Instituto de Saúde Coletiva, Glória Teixeira, sobre epidemiologia, febre amarela e zika.
No Caranguejo do Porto, os apreciadores das artes podem descobrir mais sobre o tema “ Pesquisa em artes: desafios e perspectivas”, no bate papo com o pesquisador e professor da Escola de Música, Paulo Costa Lima.
“Foi a música que inventou a Bahia, ou foi o contrário? O que significa pesquisar artes e música na Bahia? Como é que pesquisa e criação se entrelaçam em nosso meio? É como a morena de Angola que leva o chocalho na canela?”, anuncia o professor Paulo.
No RedBurguer N Bar, quem quiser saber mais sobre jornalismo online pode participar do bate papo com a pesquisadora e diretora da FACOM Suzana Oliveira Barbosa.
Fonte: EdgarDigital