A Universidade Federal da Bahia marcou presença na Marcha do Dia Internacional da Mulher, realizada na quarta-feira, 8 de março, no centro da cidade de Salvador.Professoras, estudantes, funcionárias administrativas, pesquisadoras, militantes e representantes dos grupos de estudos em gênero e feminismo da UFBA participaram da manifestação para denunciar o machismo e a violência de gênero, com o foco principal das reivindicações nos direitos sociais, trabalhistas, sexuais e reprodutivos.
Participaram da marcha representantes do Núcleo de Estudos Interdisciplinares sobre a Mulher (Neim / Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas), Programa de Estudos em Gênero e Saúde (Musa / Instituto de Saúde Coletiva), Grupo de Estudos sobre Saúde da Mulher (Gem / Escola de Enfermagem), Núcleo de Estudos e Pesquisas de Gênero, Raça/Etnia e Geração (NepGreg/ Instituto de Psicologia), Núcleo de Estudos e Pesquisas em Gênero, Raça e Saúde (Negras), Frente Feminista da UFBA, Diretoria da Mulheres do DCE, Apub e Assufba.
No Brasil, o movimento aconteceu em mais de 60 cidades, incluindo as principais capitais, e teve também como pautas a luta contra a reforma da previdência, o genocídio e encarceramento do povo negro, contra a cultura do estupro e a criminalização do aborto, o patriarcado, as ações misóginas, lesbofóbicas, transfóbicas, xenofóbicas e racistas.
Durante o evento, algumas das homenageadas presentes gravaram depoimentos para a TV UFBA (veja o vídeo) refletindo sobre o fato de ser mulher nos dias atuais. Nas palavras da diretora do Instituto de Saúde Coletiva da UFBA, professora Isabela Pinto, “ser mulher é assumir um conjunto de direitos e atribuições que foram conquistadas ao longo de muitos anos, lutando por mais democracia e menos desigualdades e injustiças”.
“Muitas mulheres ainda sofrem violência e são exploradas no mercado de trabalho. Falta muito para a igualdade de direitos entre homens e mulheres na sociedade”, observou a diretora do Instituto de Letras, Risonete de Souza.
“8 de março é uma data que evidencia a luta cotidiana das mulheres e os desafios enfrentados nos diversos espaços”, disse a pró-reitora de Ações Afirmativas e Assistência Estudantil, Cássia Maciel.
A professora Ilka Bichara, diretora do Instituto de Psicologia, lembrou o episódio das mulheres operárias que morreram no ano de 1911, em uma fábrica têxtil de Nova Iorque, motivando toda uma trajetória de manifestações feministas. “A universidade é um espaço para refletir sobre as questões da mulher na sociedade”, considera.
Os desafios enfrentados pelas mulheres que ocupam cargos de gestão foram citados pela pró-reitora de Desenvolvimento de Pessoas, Lorene Silva Pinto, que afirmou que não se trata de uma disputa de gêneros, mas sim de uma busca por direitos iguais, o que passa pela questão salarial e vai além.
“As mulheres são tratadas de forma desigual no mercado de trabalho e acumulam a dupla jornada. Também enfrentamos ameaça de retrocessos nos direitos já conquistados pelas mulheres diante de um congresso nacional conservador e com pouca representatividade feminina”, observou Gisélia Souza, coordenadora de Desenvolvimento Humano.
Dulce Aquino, diretora da Escola de Dança, destacou a importância da atuação das mulheres na construção da universidade. Nanci Novais, diretora da Escola de Belas Artes, falou sobre o papel da universidade enquanto espaço formador e sua responsabilidade para com a transformação social. “Ser mulher hoje é um desafio, mas é uma luta muito boa em busca da igualdade de direitos”, disse a professora Heloniza Costa, da Escola de Enfermagem.
A superintendente do Sistema de Bibliotecas da UFBA (SIBI), Lídia Toutain, apontou o processo de empoderamento feminino e a capacidade de as mulheres assumirem os diversos papéis e funções sociais como profissional, mãe, dona de casa, etc. A diretora do Museu Afro-Brasileiro, Graça Teixeira falou sobre a responsabilidade de representar as conquistas obtidas por gerações passadas e seguir lutando pelas muitas formas de “ser mulher”.
Suani Pinho, chefe de gabinete do reitor, destacou o reconhecimento do trabalho da mulher pela gestão da universidade e apontou a grande presença feminina na composição da atual equipe. “Os cargos de gestão ocupados por mulheres são exemplos para a comunidade UFBA e para as próximas gerações”.
Durante a homenagem realizada na Reitoria, a Editora da Universidade (Edufba) promoveu uma exposição de livros que abordam temáticas ligadas às questões de gênero, além dos títulos de autoria feminina publicados pela editora no ano de 2016. Entre as obras expostas foram destacados títulos como “A casa das mulheres n’outro terreiro: famílias matriarcais em Salvador” (2014), de Maria Gabriela Hita; “Mulher negra, afetividade e solidão” (2013), de Ana Cláudia Lemos Pacheco; e “Fendas e frestas: a mulher, da contemplação à interlocução” (2006), de Maristela Ribeiro.
Março Lilás
Durante todo o mês de março, os grupos de estudo em gênero e feminismo que se articulam na universidade promovem uma série de atividades nas unidades de ensino, mobilizando a comunidade acadêmica para debates sobre o tema e apresentações artísticas.
No Dia Internacional da Mulher, uma roda de conversa foi realizada na Faculdade de Direito logo pela manhã, tendo como tema “A noite não adormece nos olhos das mulheres: diálogos de resistências sociais e políticas”. À noite, o público pode conferir no Teatro Martim Gonçalves o espetáculo A Reza & Sarau Feminino, com poesia, música, performance e vídeo instalação produzidas por artistas mulheres.
Na Faculdade de Educação, foi realizada, entre os dias 06 e 09 de março, a II Semana das Mulheres da Faced. Com o tema “Mulheres na Luta sem Temer”, o evento contou com apresentações artísticas, oficinas e palestras. No dia 09/03, o Grupo de Estudos sobre a Mulher (GEM), da Escola de Enfermagem, realizou o evento “Por que 8 de março é das mulheres”, com mostra de vídeos e roda de conversa.
O Núcleo de Estudos e Pesquisas em Gênero, Raça e Saúde (Negras) promoveu o Chá de Março na Escola de Nutrição, com o tema “Mulheres e Cidadania na Construção de Saberes”, na sexta-feira (10/03). O evento teve mesa redonda com a participação de representantes da Frente Feminista da UFBA e da Comunidade Quilombola Gaioso – Araças, além de sarau com poetisas e poetas do cenário baiano, exposição e venda de artesanatos.
Também no dia 10/03, a socióloga, cientista política e ministra da Secretaria de Políticas para as Mulheres (2012-2015), Eleonora Menicucci participou da conferência “Análise da conjuntura atual e impacto sobre a vida das mulheres”, no Instituto de Saúde Coletiva (ISC). A conferência é uma promoção do MUSA – Programa Integrado de Pesquisa e Cooperação Técnica em Gênero e Saúde e do Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva.
Estela Aquino, docente do ISC e coordenadora do Musa, classificou a sessão científica com Eleonora Menicucci como “uma oportunidade imperdível de conhecer o ponto de vista de uma feminista histórica, que conduziu como ministra as políticas voltadas para as mulheres, em um momento de grandes embates com as forças conservadoras, que finalmente tomaram de assalto o nosso país. Ouvi-la pode nos inspirar na luta pela garantia dos nossos direitos em uma conjuntura de muitos desafios, tanto em nível nacional, quanto internacional”.
O Neim, da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, também promove atividades durante todo o mês. No dia 06 foi realizada no PAF I a aula aberta da professora Salete Maria da Silva sobre a reforma da previdência e os direitos das mulheres. No dia 08, representantes do núcleo participaram do debate no Conselho Acadêmico de Ensino (CAE) com o tema “Mulheres na contemporaneidade e a UFBA nesse contexto” com a presença das professoras Iole Vanin e Maise Zucco. De 8 a 10 de março, foram realizados ainda os seminários temáticos PPG-Ciências Sociais e seminários intermediários pré-congresso da SBS (Sociedade Brasileira de Sociologia), com as professoras Alda Motta, Márcia Macedo e Eulália Azevedo (no GT 07 – Dinâmica Geracional em Contextos de Gênero) e Rosângela Araújo (no GT 03 – Relações Raciais).
Em 21 de março vai acontecer ainda o debate “100 anos de luta pelos direitos das mulheres”, promovido pelo Bacharelado em Estudos de Gênero e Diversidade da UFBA, juntamente com o PPGNeim e o Neim, às 18h30, no auditório do PAF 1, no campus de Ondina.
Desigualdades de Gênero e Greve das Mulheres
Neste ano, para marcar o 8 de março, uma greve Internacional de mulheres foi convocada por feministas históricas, como Angela Davis e Nancy Fraser, que destacam a necessidade de se defender a igualdade de gêneros e combater a onda crescente de conservadorismo que ameaça os direitos das mulheres. O movimento, com a adesão de mais de 50 países, conclamou as mulheres para cruzarem os braços, parando por um dia as tarefas domésticas e as atividades laborais remuneradas, chamando a atenção para as desigualdades que afetam as mulheres, especialmente em relação aos direitos trabalhistas e sociais.
O Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea) divulgou pesquisa na última segunda-feira, 6, demonstrando as desigualdades de gênero e raça no Brasil, com base em séries históricas de 1995 a 2015 da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), do IBGE. Os dados revelam que as mulheres trabalham em média 7,5 horas a mais que os homens por semana. No ano de 2015, os homens tiveram uma jornada semanal de 46,1 horas enquanto as mulheres enfrentaram uma jornada total média de 53,6 horas semanais – considerando a soma do trabalho remunerado mais os afazeres domésticos.
De acordo com o estudo, em relação às atividades não remuneradas, mais de 90% das mulheres afirmaram realizar atividades domésticas, contra apenas 53% dos homens. Os números apontam também que, ao longo de toda a série histórica, o rendimento médio do trabalho da população brasileira é bem diferente quando comparados os fatores gênero e raça. Os homens brancos são os que têm as maiores remunerações, enquanto que as mulheres negras recebem os menores valores no mercado de trabalho.
Fonte: EdgarDigital