Um reforço para acompanhar a dinâmica dos temas apresentados em sala de aula, a elaboração de trabalhos, a preparação para apresentação de seminários e a realização de avaliações. Esse auxílio tem ajudado estudantes com necessidades especiais dos cursos de graduação a permanecer inseridos no processo de aprendizado e garantam sua formação na Universidade Federal da Bahia.
Neste semestre, alunos com deficiência intelectual (DI), dislexia, transtorno de déficit de atenção (TDA), transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), autismo e deficiência visual (cegueira total) terão esse apoio garantido por 17 monitores do Programa de Monitoria Inclusiva da Pró-Reitora de Graduação (Prograd), em parceria com a Pró-Reitoria de Ações Afirmativas e Assistência Estudantil (Proae), através do Núcleo de Apoio à Inclusão do Aluno com Necessidades Educacionais Especiais (AEE/Nape).
Os monitores, que também são estudantes da UFBA, foram selecionados pelo edital interno lançado recentemente pelas duas pró-reitorias. De acordo com a assessora da Prograd, Karina Menezes, “a universidade está antenada aos direitos básicos de apoio e inclusão para garantir a permanência dos estudantes que mais precisam”. Por isso, desde o semestre passado, mantém o programa de monitorias especiais e, recentemente, lançou o edital, voltado ao processo seletivo de monitores para o Programa de Monitoria Inclusiva, que disponibilizou 24 bolsas para estudantes da UFBA atuarem como tutores em componentes curriculares que tenham estudantes assistidos pelo Atendimento Educacional Especializado, oferecido pelo Nape.
A pedagoga do Nape, Greice Morais, explica que o edital foi lançado diante da demanda por esse tipo de assistência, detectada pelo núcleo. Ela conta que foram selecionados 17 bolsistas, que serão tutores de dois estudantes com DI; um com dislexia; um com TDA; um com TDHA; dois com deficiência visual (cegueira total) e um com autismo. Os monitores especiais trabalharão com o processo de aprendizagem mediada, que envolve técnicas para fixação do conteúdo ministrado em sala de aula e preparação para as avaliações. Serão quatro horas de acompanhamento na sala de aula e seis para auxiliar os estudos dos conteúdos apresentados nas disciplinas, explicou a pedagoga.
Para estarem aptos a esse processo de construção do desenvolvimento intelectual, os monitores selecionados participaram de um treinamento de 16 horas, a fim de conhecer as necessidades dos estudantes que serão atendidos. Na atividade, realizada no auditório do PAF 3, no campus de Ondina, foram passadas orientações sobre cada deficiência, as reações e necessidades dos alunos, além de técnicas para fixação do aprendizado e propostas pedagógicas.
Em meio às dinâmicas, os monitores também receberam dicas de como usar recursos lúdicos, como filmes, áudio, jogos, letras móveis, lápis adaptados, repetições e explicações para trabalhar melhor a compreensão.
O técnico em assuntos educacionais do Nape, José Gonçalo dos Santos Cazumbá, destacou que “o projeto ainda está se ajustando, pois começou no semestre passado e teve apenas dois monitores. Neste semestre, crescemos para 17 monitores e temos a oportunidade de melhorar ainda mais”.
A importância de criar um vínculo entre o monitor e o estudante assistido também foi enfatizada por Cazumbá. A assistente social da equipe multiprofissional AEE, Iza passos, também ressaltou que “essa relação representa um ganho de experiências para a vida futura pessoal e profissional de ambos”.
Monitoria especial: ajuda de mão dupla
O estudante F.A. (nome fictício para evitar exposição), que é portador de deficiência intelectual (DI), está matriculado regularmente em curso de graduação da UFBA e é assistido pelo Nape. Ele garantiu que o apoio da monitoria especial o “ajudou bastante, no semestre passado, pois o monitor passou muitos exercícios de cálculos e fez uma revisão geral para lembrar o assunto da prova”.
O jovem conseguiu melhorar o desempenho, as notas e alcançou a aprovação para matricular-se em disciplinas subsequentes. Ele continuará recebendo acompanhamento de novos monitores e, agora, espera “ajuda para escrever os resumos diários das aulas e reforço para rever o tema abordado na aula passada”. Sem monitor, ele admite que “fica sem saber como estudar o assunto dado; mas, com o monitor, vai me ajudar bastante nas aulas”.
A estudante do bacharelado interdisciplinar em ciência e tecnologia, Paloma Batista Calmon de Passos, está entre os monitores que auxiliarão o estudante com DI. Ao ficar sabendo da monitoria especial do Nape, a estudante enxergou a atividade como um “ganho incrível” em sua vida pessoal por ser “uma oportunidade de ajudar outra pessoa a desenvolver seu potencial”. Para ela “é uma realização pessoal poder atender a um público para o qual não estava capacitada antes, o que foge à individualização e passa para um atendimento inclusivo”.
Paloma, que cursou a disciplina “tópicos especiais em ciência da tecnologia” no semestre passado, já conversou com o professor sobre a monitoria especial e, durante a capacitação, rascunhou algumas técnicas para ajudar o estudante com necessidade especial em seu processo de aprendizado. Segundo a estudante, “a matéria é de construção de pensamento lógico e tem uma linha de raciocínio baseada na sequência de períodos históricos e tecnológicos, referentes ao processo de construção da história da tecnologia, não se restringindo só a exatas, mas estende-se também às humanidades. Então, pretendo criar uma linha do tempo para proporcionar a elaboração de associações, para que o estudante F.A. identifique o que é mais relevante e interessante para construir o próprio raciocínio”.
A estudante, que também atua como monitora de inclusão tecnológica do Programa Onda Digital da UFBA, acompanhará F.A. em sala de aula e o ajudará na “elaboração dos resumos diários, a fim de tecer uma linha de raciocínio que ligue todos os textos estudados no período”.