A temática indígena estimula uma série de reflexões neste mês que marca o Dia do Índio (19 de abril). Mostra de filmes, debates, rodas de conversas, trocas de saberes e tradições culturais acontecem com o protagonismo dos estudantes indígenas que fazem parte da Universidade Federal da Bahia.
A abertura do Abril Indígena contou com a apresentação dos rituais sagrados Awê e Toré. Uma roda de conversa com o título “Experiência do Ensino Superior Indígena na UFBA” também foi promovida no campus de Ondina, onde os estudantes puderam trocar vivências sobre a trajetória universitária e os veteranos deram dicas aos colegas recém-chegados.
Outros eventos estão programados para acontecer neste mês no Museu de Arqueologia e Etnologia da UFBA, sempre a partir das 14 horas: o professor Cláudio Pereira fará observações sobre as fotografias de Pedro Agostinho no Xingu, no dia 20/04; “Ensinando a historiografia indígena na sala de aula” será o tema da professora Ana Carolina Barbosa, no dia 25/04; e a professora Maria Rosário de Carvalho fala sobre Pedro Agostinho e Etnologia Indígena, no dia 27/04.
Antropólogo e professor da UFBA, Pedro Agostinho da Silva desenvolveu diversos e relevantes trabalhos no campo indigenista. Suas pesquisas no Parque Nacional do Xingu, na década de 1960, resultaram também na reunião de 268 artefatos indígenas que foram doados ao MAE, em 1983, e passaram a compor o acervo permanente do museu.
A estudante de fisioterapia Vanessa Pataxó, que é membro do Núcleo de Estudantes Indígenas (NEI/UFBA), conta que a edição deste ano do Abril Indígena foi reduzida devido aos preparativos para o V Encontro Nacional de Estudantes Indígenas, que será sediado em setembro na UFBA. O encontro terá como tema “Espaço de Afirmação, Protagonismo e Diálogos Interculturais: Descolonizando o Pensamento”.
Ambos os eventos são realizados com a participação do programa de educação tutorial PET-Comunidades Indígenas em parceria com o Núcleo de Estudantes Indígenas. Criado em 2010 e composto por estudantes dos diversos cursos da UFBA, o PET-Comunidades Indígenas desenvolve ações com ênfase na formação em pesquisas temáticas, cartografia, registros, diálogos de saberes culturais e políticas públicas para a diversidade.
“É importante demarcar espaços, promover a afirmação cultural, superar preconceitos e debater as temáticas indígenas”, diz Vanessa Pataxó, que considera ser preciso desconstruir a imagem romantizada do índio e assegurar a sua oportunidade de acessar o ensino superior.
Atualmente 83 índios aldeados integram o corpo discente da UFBA, distribuídos em 43 diferentes cursos, sendo a maioria composta por mulheres (60%), segundo informações da Pró-reitoria de Ações Afirmativas e Assistência Estudantil (Proae). Estão representados 9 dos 16 povos existentes na Bahia: Pataxó, Tuxá, Pankararú, Kiriri, Tumbalalá, Pataxó Hã hã hãe, Xukurú, Payayá, Atikum.
Os números tomam como base apenas os índios aldeados que têm a sua condição comprovada através da apresentação de declaração da Fundação Nacional do Índio (Funai) e de documento fornecido pelo cacique da aldeia. Certamente o número de estudantes de descendência indígena na universidade é muito maior, embora não existam dados oficiais.
Foto: PET - Comunidades Indígenas