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Mesa aborda inserção de profissionais oriundos das políticas de cotas no mercado de trabalho

Políticas de Ações Afirmativas foram avanço importante

“A construção da identidade racial no Brasil, a partir da década de 70, o reconhecimento da democracia racial com um mito a ser superado e a consciência de que a discriminação racial e o racismo podem ser superados com a criação de Ações Afirmativas levou o país a construir estratégias políticas para acabar com a desigualdade racial”. Tendo como ponto central a educação e a construção da diversidade nas instituições de ensino superior. Essa é posição do sociólogo Antonio Sergio Alfredo Guimarães, apresentada na tarde de sábado, 16, durante a mesa “Da universidade ao mercado de trabalho: o dia seguinte das iniciativas de inclusão”, no Auditório do Instituto de Geociência, durante o Congresso da UFBA.

Na visão de Guimarães, a valorização desta identidade racial proporcionou o reconhecimento dos negros. Este dado foi confirmado pelo IBGE, em 2008, mostrou que mais de 80% de pessoas entrevistadas, com idade a partir de 15 anos se declararam pardos ou negros. Nessa perspectiva, o número de pessoas favoráveis à implantação das políticas de cotas nas universidades também seguiu aumentando, conforme o pesquisador. De acordo com ele, em 2002, a implementação da Lei 10. 558 proporcionou um significativo aumento das políticas de inclusão nas universidades públicas através da Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni), do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e do Sistema de Seleção Unificado (SISU).

As Políticas de Ações Afirmativas foram um avanço importante na construção da diversidade dentro das instituições de ensino superior, além de ter ajudado na superação do congelamento da oferta de vagas nessas instituições, no período entre 1946 e 2003. Também a expansão, as Ações Afirmativas e, sobretudo, as políticas de cotas, trouxeram uma visível mudança na universidade, com a inclusão da população negra. “Esse cenário derruba o sistema que permitia o favorecimento do alunado da classe média alta e dos oriundos das escolas privadas”, afirma. 

 

Avaliação das Ações Afirmativas na UFBA e na Unicamp

As Ações Afirmativas são fundamentais para a democratização do acesso de estudantes na UFBA. Contudo, ainda é preciso ter uma avaliação mais profunda dos impactos dessas políticas no ensino. Essa foi uma das conclusões da pesquisa realizada pela professora Lilia Carolina Carneiro da Costa, que avaliou o impacto da política de cotas e o perfil destes estudantes ingressantes.  

Para a pesquisadora, o estudo mostrou que os estudantes cotistas apresentam um perfil quase inalterado: “têm entre 18 e 26 anos, vêm do interior do estado e de famílias com baixa escolaridade. O desempenho médio geral desses alunos não é negativo, porém, quando o estudo leva em consideração o desempenho por curso, o cotista tende a cair nos cursos de alta concorrência, como a medicina e as engenharias”, afirma. O oposto ocorre com os cotistas no curso de letras, pois houve maior número de concluintes e menor desistência, no período estudado, entre 2005 e 2006.

De acordo com Costa, uma pesquisa para avaliar o desempenho dos cotistas na UFBA será completa quando houver a incorporação de indicadores socioeconômicos, possibilitando a validação dos resultados apresentados nesta pesquisa, que ela classifica como inicial.

A trajetória dos estudantes beneficiados pela política de cotas na Unicamp e como eles estão no mercado de trabalho foi o centro da fala da socióloga Nadya Araujo Guimarães, que partiu da questão: o que se passa com os estudantes quando ingressam no mercado de trabalho? De acordo com a pesquisadora, “o canudo de prestígio constrói ou reforça trajetórias desiguais, constituindo-se com um desafio enfrentado pelas políticas de inclusão”. Nessa perspectiva, o estudo concluiu que o valor simbólico da instituição proporciona a ampliação de oportunidade no mercado de trabalho. Contudo, é fator marcante no estabelecimento das desigualdades entre credenciais outorgadas por diferentes instituições de ensino.

O estudo reforça ainda que para chegar ao mercado, o profissional que foi beneficiado pelas políticas de cotas, oriundo de instituições de alta qualidade “tem em sua formação um capital intelectual, mas necessita agregar capital relacional, construído no período de estudos que, certamente, lhe conferirá vantagens no mercado profissional”, reforça.

Finalizando, a socióloga chamou a atenção para a importância do engajamento da UFBA em saber como estão os profissionais beneficiados pelas Ações Afirmativas, no mercado de trabalho. “A UFBA tem resultados mais significativos que a Unicamp, pois seu valor simbólico eleva a condição de inserção no mercado de trabalho, potencializando a condições desiguais nesse campo.”