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Jerónimo Pizarro revisita Fernando Pessoa na Reitoria da UFBA

Pesquisador descobriu inéditos de Pessoa

“Um Fernando Pessoa Revisitado” é o título da palestra que pesquisador colombiano Jerónimo Pizarro proferirá na próxima quarta-feira, dia 03 de Junho, às 18 horas, no Salão Nobre da Reitoria da Universidade Federal da Bahia. Pizarro vem se dedicando a reacender os estudos sobre a obra do poeta português Fernando Pessoa, o que já o qualifica como uma das maiores autoridades atuais na obra de Pessoa, lidera uma equipe de jovens pesquisadores responsáveis pelas recentes descobertas nos arquivos de 30 mil documentos do espólio do poeta, em Lisboa.

Jerónimo Pizarro é Professor da Universidad de los Andes, em Bogotá, Titular da Cátedra de Estudos Portugueses do Instituto Camões na Colômbia e Doutor pelas Universidades de Harvard (2008) e de Lisboa (2006), em Literaturas Hispânicas e Linguística Portuguesa. No âmbito da Edição Crítica das Obras de Fernando Pessoa, publicadas pela INCM, já contribuiu com oito volumes, sendo o último a primeira edição crítica do Livro do Desassossego. Em 2010 a D. Quixote publicou A Biblioteca Particular de Fernando Pessoa, livro que preparou com Patricio Ferrari e Antonio Cardiello, depois dos três coordenarem a digitalização dessa biblioteca com o apoio da Casa Fernando Pessoa: http://casafernandopessoa.cm-lisboa.pt/bdigital/index/index.htm

Em 2011 a Legenda publicou o livro Portuguese Modernisms in Literature and the Visual Arts, co-organizado com Steffen Dix, com quem já tinha co-editado, em 2008, um número especial da revista Portuguese Studies, e em 2007, um livro de ensaios, A Arca de Pessoa. Actualmente, Pizarro é o Coordenador de duas novas séries da Ática (1. Fernando Pessoa | Obras; 2. Fernando Pessoa | Ensaística). Em 2013, assumiu funções de comissário da presença portuguesa na FILBo – Feira do Livro de Bogotá (Colômbia) e foi distinguido com o Prémio Eduardo Lourenço. Em abril do mesmo ano, foi agraciado pelo presidente da República com a comenda da Ordem do Infante D. Henrique.

Em entrevista concedida à jornalista Verena Paranhos, publicada no jornal A Tarde (edição do dia 30 de abril), da qual transcrevemos alguns trechos, ele destaca a importância do poeta, e da pesquisa sobre ele, para a contemporaneidade.

 

O que a consulta aos originais de Fernando Pessoa significou para o entendimento de sua obra na atualidade?

Há uma frase famosa, de Ivo Castro, segundo a qual “Pessoa está nos seus papéis”. É evidente que também está na memória de algumas pessoas e como esfinge de muitos mitos culturais. Nos autógrafos pessoanos (papéis escritos pelo próprio, mesmo que despersonalizado) temos o testemunho da escrita de certos textos que costumamos aprender e citar de cor. Esse testemunho é plural e pode desafiar o que já sabíamos. Por exemplo, é possível descobrir as muitas versões de Ai, Margarida ou de Ó sino da minha aldeia, conhecer as variantes, acompanhar a gênese dos poemas e, por vezes, ler melhor algumas passagens que supúnhamos já ter lido bem. Os originais de Pessoa também são o futuro: muitíssimos ainda não foram sociabilizados.

 

Que tipos de surpresas podem surgir do espólio de Pessoa?

Há descobertas que dependem não tanto de passar os olhos por certos papéis, como de redescobrir o que outros já viram. A poesia ortônima sem data está amplamente inédita, mas a sua publicação permitiria duas coisas igualmente importantes: ler versos inéditos e rever a “imagem“ que temos dessa poesia.

 

Você já afirmou que as editoras não reagiram ao fato de Pessoa estar em domínio público. A que você atribui isso?

Parece-me uma questão de conforto. É muito simples ficar pelo mais conhecido e mais vendável. É mais arriscado apostar pelo desconhecido, mesmo que colando no livro uma cinta indicando o número de inéditos. Livros como Argumentos para Filmes (Ática, 2011) tiveram uma sorte comercial maior do que outros, não porque fossem comparativamente mais interessantes, mas porque foram melhor comercializados. No Brasil, não vejo um Pessoa que se esteja a expandir para além do monopólio de uma editora cativa. Pessoa é mais do que Mensagem (publicado ainda em vida, em 1934) e três heterônimos.