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Formação Profissional na Pós-Graduação foi tema de debate no Congresso da UFBA

A professora Tânia Fischer participou das discussões

A formação de profissionais e o retorno social por parte da universidade motivaram o debate que aconteceu na manhã desta sexta-feira (15/07), no Instituto de Geociências, no campus de Ondina. A mesa “Formação Profissional na Pós-Graduação: mestrados e doutorados orientados à integração produtiva e desenvolvimento territorial” contou com as participações de Rafael Lucchesi, diretor geral do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI), Tânia Fischer, coordenadora do Centro Interdisciplinar em Desenvolvimento e Gestão Social (CIAGS), Ivone Costa, coordenadora do curso de Mestrado Profissional em Segurança Pública, Justiça e Cidadania (MPSPJC/UFBA), Antônia Pereira, coordenadora da área de artes da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), e Elias Souza, do Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia da Bahia (IFBA), recentemente nomeado diretor científico da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia (FAPESB).

O mestrado profissional é uma modalidade de pós-graduação strictu sensu, regulamentada em 2009, com o objetivo de capacitar profissionais para atender a alguma demanda do mercado de trabalho e contribuir com o setor produtivo nacional através da formação de mestres profissionais habilitados para desenvolver atividades em temas de interesse público. A professora Ivone Costa falou sobre a experiência desenvolvida pela UFBA, pioneira no Brasil, com a finalidade de capacitar agentes de segurança pública. Ela destacou a importância de a universidade responder a um cenário atual marcado por números alarmantes da violência no país, do baixo nível de confiança nas organizações de segurança e da sensação de injustiça compartilhada pela população. “A segurança pública não pode ser nunca entendida como uma responsabilidade específica da polícia, mas sim como um direito à cidadania dentro de uma perspectiva institucional, social e de políticas públicas”, disse Ivone. O sucesso da iniciativa levou o Ministério da Justiça a expandir a experiência para todo o Brasil.

A coordenadora da área de artes da CAPES, Antônia Pereira, falou sobre os cursos de mestrado profissional na área das artes e a implantação do qualis artístico, que consiste no processo de avaliação da produção artística na pós-graduação, com a proposta de valorizar ações que articulam pesquisa acadêmica e a criação de obras artísticas. A professora destacou o papel estruturante da arte em todos os níveis da educação e a demanda crescente por esses cursos. A UFBA, mais uma vez, foi pioneira com a criação do primeiro mestrado profissional em música, desenvolvido em parceria com Núcleo Estadual de Orquestras Juvenis e Infantis da Bahia (NEOJIBA).

A fala do professor Elias Ramos abordou o Parecer Sucupira, ainda considerada a ‘carta magna’ da pós-graduação no país, datada de 1965. Na sua concepção, o programa de pós-graduação brasileiro precisa ser atualizado, ampliado e estar articulado com o setor produtivo, com uma formação profissional que seja capaz de atender às demandas da sociedade. Ele também propôs repensar questões como a concentração de pós-graduados no setor público e o tempo de duração dos cursos. Contudo, o professor apontou um avanço no ambiente regulatório brasileiro com a aprovação do Código de Ciência e Tecnologia (Lei Nº. 13.243, de 11 de janeiro de 2016), que, segundo ele, tem contribuído para a melhoria dos indicadores na área da inovação.

Na sequência, falou o diretor do SENAI Rafael Lucchesi que criticou a matriz educacional brasileira, apontada como elitista e excludente. “Apenas 17% dos jovens brasileiros estão na universidade. Aos outros 83%, o sistema educacional não oferece nada”. Ele disse que falta um projeto de país, de cidadania e que é preciso uma reformulação desse sistema. Apontou ainda as altas taxas de evasão dos estudantes. De acordo com Lucchesi, apesar do aumento dos investimentos em educação nos anos recentes, há um problema de gestão. “A grade curricular do ensino médio é voltada integralmente para entrada do jovem na universidade, o que não se concretiza na maioria dos casos”, disse ele, que considera também que “as crianças irão trabalhar em empregos que nem existem ainda, e muitos dos empregos para os quais a universidade forma não existirão mais no futuro”. Lucchesi disse que os mestrados profissionais ajudam a repensar questões como essas e cobrou dos pesquisadores compromisso com o interesse público, com o bem-estar social e a geração de riqueza.

A professora Tânia Fischer, da Escola de Administração da UFBA, falou sobre o trabalho do Centro Interdisciplinar em Desenvolvimento e Gestão Social, que abrange ações desenvolvidas na educação de base, extensão, especialização, graduação tecnológica e mestrado. Ela questionou as métricas e valores para avaliação dos programas de pós-graduação através da simples publicação de 'papers', ressaltando a importância de estimular a produção de trabalhos capazes de gerar impacto social. Neste ano, a professora foi escolhida pelo Conselho Deliberativo do CNPq para receber o título de Pesquisador Emérito do CNPq, em reconhecimento à sua contribuição para as Ciências Sociais Aplicadas. Em sua fala, ressaltou ainda que os mestrados profissionais devem atender aos anseios de uma nova geração que pede transformações na educação e citou os episódios recentes em que estudantes secundaristas ocuparam escolas em todo o país para exigir mudanças no sistema.

Durante o encontro, Tânia Fischer aproveitou para denunciar a falta de apoio ao artesanato da Bahia, que em sua concepção poderia agregar muitos valores e gerar riquezas para população local, e criticou o fechamento do Instituto Mauá, espaço para comercialização de trabalhos de artesão de diversas comunidades do estado. Da mesma forma, lembrou da interdição do Centro de Convenções da Bahia, que representa um prejuízo significativo para esse outro importante setor de geração de emprego e renda no estado. Por fim, ela deu a notícia de que está sendo acordado com a CAPES uma resolução para instituir o doutorado profissional e disse contar com o apoio da comunidade acadêmica para promover mais essa inovação.