A violência psicológica é a mais denunciada por mulheres, vitimas de agressão na Bahia. Segundo pesquisa da doutoranda da Faculdade de Enfermagem da UFBA Jordana Brock Carneiro, são mais de 90% dos casos. O estudo teve como recorte a reeducação de homens e mulheres envolvidos em processos de violência conjugal, apresentado na manhã deste domingo (17/07), durante o Congresso da UFBA.
De acordo com a pesquisa desenvolvida pelo grupo de estudo sobre Violência, Saúde e Qualidade de Vida - Vid@, da Faculdade de Enfermagem, a média de idade de mulheres que denunciam a violência é de 25 a 45 anos, sendo que dessas, 75% são negras ou pardas, têm entre um e dois filhos, renda de até dois salários mínimos e com até 20 anos de convivência com o agressor. “Em relação ao perfil dessas mulheres, o estudo confirma que, mesmo elas tendo alguma fonte de renda de seus parceiros, ainda são dependentes financeiramente, o que acaba mantendo-as nas relações abusivas”.
A pesquisa também verificou que, depois da psicológica, a violência mais denunciada é a física, seguida da moral. O levantamento considerou os casos denunciados na 1ª e 2ª Varas de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher além de uma realizada mediante a parceria da Fundação de Apoio à Pesquisa da Bahia (Fapesb) e da Secretaria de Segurança Pública (SSP).
De acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), a violência contra mulheres e meninas é uma grave violação dos direitos humanos, tendo consequências físicas, sexuais e mentais, incluindo a morte. Segundo a Organização, ela afeta negativamente o bem-estar geral das mulheres e as impede de participar plenamente na sociedade.
Dados da Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da República (SPM-PR), mostram que o Brasil registrou, nos dez primeiros meses do ano passado, 63.090 denúncias de violência contra a mulher - o que corresponde a um relato a cada 7 minutos no país. Desses registros, quase metade (31.432 ou 49,82%) corresponde a denúncias de violência física e 58,55% foram relatos de violência contra mulheres negras.
Na Bahia, foram registrados quase 10 mil casos de violência contra a mulher somente no primeiro trimestre deste ano, de acordo com dados divulgados pela Secretaria de Segurança Pública do Estado (SSP-BA). De janeiro a março, foram contabilizadas 9.795 ocorrências, entre homicídios, tentativas de homicídios, lesão corporal, estupro e ameaça.
Na Faculdade de Enfermagem da UFBA, o grupo de estudo Vid@ realizada as pesquisas com o objetivo de formar profissionais para atuação com mulheres vítimas de violências. “Nosso foco, através das pesquisas e das ações de extensão, é proporcionar mecanismos que auxiliem essas mulheres a se emponderarem, compreendendo que a submissão não é algo natural, mas uma construção social”, afirma a professora Nadirlene Gomes, líder do grupo.
Compreender a violência contra a mulher, em grande medida, é entender sua relação com seus parceiros e, a partir daí, pensar em uma reeducação e responsabilização do agressor. Para tanto, a doutoranda Gilvania Patricia Paixão trabalhou com homens agressores com o objetivo educá-los na perspectiva de gênero, a partir da desnaturalização da conduta violenta.
Violência transgeracional e familiar
Neste estudo, de acordo com Paixão, “houve a comprovação de que um dos fatores contributivo e de relevância na construção de cenários de violência é a violência transgeracional, ou seja, ou o agressor testemunhou atos violentos na família ou foi vítima quando criança”, reforçou.
No que tange à violência sofrida por crianças e adolescentes na escola, a doutoranda Rosana Santos Mota afirmou, por meio de sua pesquisa em escolas, que existe uma forte relação da reprodução da violência com a violência intrafamiliar. O uso de álcool ou drogas e vitimas de bullyng nos espaços educacionais também influencia na reprodução da mesma. Cerca de 60% dos alunos observados, já foram ou são vítimas de violência tendo um perfil bastante definido. “Eles são, em sua maioria, negros, estudantes do ensino médio, heterossexuais e estão na faixa etária de 12 a 19 anos”.
Com o resultados de todos estes estudos, o objetivo do Vid@, mais a frente, é realizar um trabalho que possa envolver os jovens, a família e a escola, pois “não podemos falar de violência em apenas umas destas instâncias”, reforça Mota.