A produção acadêmica sobre Capoeira e sua memória na UFBA foi o tema do debate ocorrido no auditório do Instituto de Biologia, na manhã de 16 de Julho. O seminário foi construído por professores, estudantes e servidores técnico-administrativos que atuam em diferentes locais da universidade.
Participaram da mesa o jornalista Paulo Magalhães; o professor da Escola de Música Guilherme Bertissolo; Angela Luhning, professora da Escola de Música; o professor aposentado do departamento de Educação Física, Hélio Campos; a professora da Escola de Dança Lara Rodrigues Machado; a professora das disciplinas Capoeira I e II da Faculdade de Educação Física, Amélia Conrado; a coreógrafa e educadora Sandra Santana; Pedro Abib, professor da Faculdade de Educação; e os Mestres de capoeira Daltro, Ferreira e Ministro.
Os palestrantes apontaram o preconceito ainda existente em relação à Capoeira e a necessidade de sua maior inclusão dentro das abordagens acadêmicas. Para Pedro Abib, a Capoeira não precisa tanto da Universidade, pois ela já tem seus próprios caminhos. “É a Universidade que precisa da Capoeira, que nos tem muito a ensinar e trazer uma grande noção de humanidade”, afirma Abib.
A professora Amélia Conrado, que também faz parte do corpo educativo do “Programa de Intervenções Arte Educativas em Comunidades” na Vila de Igatu, relata que o espaço acadêmico impõe limitações à inclusão da Capoeira, e que seu ensino precisa ser recriado.
O Mestre Daltro destaca que a literatura acadêmica sobre Capoeira não possui uma linguagem acessível para a comunidade de capoeiristas. “É necessário que os pesquisadores façam essa revisão, pois os materiais escritos devem ter os capoeiristas como maiores privilegiados”, alega Daltro.
O Mestre Ministro sugere aos professores da UFBA realizações de projetos em comunidades, como forma de interação mais direta entre a produção científica e os praticantes de Capoeira. “Primeiro poderiam mapear bairros, ver onde se ensina Capoeira, e a partir daí a universidade interagiria com as comunidades, permitindo uma relação mais consistente entre a teoria e a prática”, declara Ministro.
Durante o seminário foi aprovada a criação do Fórum de Capoeira da UFBA, um espaço de articulação entre os diferentes capoeiristas atuantes na universidade, com o objetivo de construir ações e projetos em comum. Dentre as questões levantadas, destacam-se um maior diálogo entre os diferentes projetos de pesquisa e extensão; a possível realização do II Congresso Internacional de Pesquisadores da Capoeira; a construção de alternativas para reconhecimento e valorização dos mestres populares, como o projeto Encontro de Saberes, as concessões de títulos de Doutor Honoris Causa e de Notório Saber.
Após o seminário, aconteceu uma roda de capoeira na Praça das Artes, coordenada pela ABCA – Associação Brasileira de Capoeira Angola. A Associação atua na UFBA através de um projeto de extensão na Escola de Dança, o Coletivo Ginga de Angola, que desenvolve atividades práticas e teóricas durante todo o ano.
* Crédito da foto: Elaine Cristine