A vida do pesquisador universitário parece resolvida depois que ele consegue levantar financiamento para montar seu sonhado laboratório. Mas quando os equipamentos, comprados a duras penas e até outro dia novinhos, começam a dar defeito, é que vem a dor de cabeça: de onde virão os recursos para custear a manutenção do laboratório?
Pensando nisso, a Pró-reitoria de Pesquisa, Criação e Inovação (Propci) lançou no ano passado o primeiro edital de apoio à manutenção de equipamentos multiusuários da UFBA, que está investindo R$1,39 milhão em reparos e inspeções preventivas em máquinas da Universidade. Ao todo, 136 equipamentos de 34 projetos de áreas diversas – como biologia, química, nutrição, farmácia e odontologia, entre outras – foram contemplados, sendo que 29 deles já foram ou estão sendo atendidos (os 5 restantes dependem apenas de retificações na documentação apresentada). A prioridade vem sendo dada aos reparos de equipamentos que, por conta de fadiga ou de algum defeito, encontravam-se parados.
“A tendência dos financiamentos das grandes agências de fomento, como Finep, Capes e CNPq, é de disponibilizar a maior parte dos recursos para aquisição de equipamentos. Mas, com dois ou três anos, os laboratórios montados começam a precisar de manutenção. Essa manutenção não é barata, e as fontes de financiamento são mais escassas”, explica o pró-reitor Olival Freire Jr. A tendência, ele afirma, é que a UFBA passe a destinar regularmente recursos para essa finalidade – nesse sentido, um novo edital de manutenção de equipamentos deverá ser publicado ainda no primeiro semestre de 2017.
Após a aprovação da destinação dos recursos e a seleção dos projetos, foi necessário ainda superar a burocracia, uma vez que muitos dos equipamentos selecionados para receber manutenção sequer haviam sido tombados pela Universidade – e, sem o tombamento, não é possível autorizar o início de qualquer intervenção. Outro desafio foi a identificação e contratação de fornecedores de peças e serviços, realizada pela equipe do setor de fomento à pesquisa da PROPCI em interlocução permanente com os coordenadores dos projetos de pesquisa. “Por se tratar de um edital global, foi possível, em muitos casos, reunir vários serviços em um mesmo contrato, negociando melhores condições tanto da prestação dos serviços, quanto em termos de valores”, explica o coordenador do setor de fomento da pró-reitoria, Antonio Lyrio Neto.
Um dos maiores contratos foi o que atendeu ao Laboratório Baiano de Ressonância Magnética Nuclear (LABAREMN), que fica no Instituto de Química e presta serviço permanentemente a uma média de 52 pesquisadores das áreas de química, farmácia, biologia e nutrição da UFBA e de universidades estaduais e institutos federais baianos. De perfil multiusuário – ou seja, público e aberto a qualquer pesquisador de qualquer área –, o laboratório abriga o único espectrômetro de ressonância magnética nuclear da Bahia e atende gratuitamente à comunidade científica baiana.
Usada para obter com precisão a composição química de substâncias das mais diversas proveniências – como, por exemplo, amostras de medicamentos em desenvolvimento, de alimentos contaminados ou de plásticos ou outros produtos em fase de teste – a ressonância, adquirida em 2005 a um custo R$ 1 milhão, com financiamento da Finep, encontrava-se parada desde maio de 2015. O motivo: quatro placas do equipamento estavam danificadas, e o conserto não sairia por menos de R$ 160 mil. Resultado: após 10 anos em atividade contínua (sábados e domingos inclusive, exceto pelas pausas para manutenção programada) e 3.158 amostras analisadas, a máquina estava fora de combate, atrasando o andamento de incontáveis projetos de pesquisa – ou obrigando os pesquisadores a pagar pelas análises a laboratórios do Rio ou de São Paulo.
“Esse edital da UFBA nos deixou felizes porque conseguimos, além do reparo, um contrato de manutenção preventiva, que inclui visitas técnicas periódicas e eventual troca de componentes danificados por um prazo de dois anos”, explica a coordenadora do LABAREMN, Elisangela Boffo, professora do Instituto de Química. Ela explica que, em vez de pagar R$ 160 mil por um único reparo, sem garantia de manutenção para futuros defeitos, a Universidade contratou uma mesma empresa para realizar consertos e manutenções da ressonância e de mais três outros aparelhos – dois de laboratórios no Instituto de Química e um na Escola de Nutrição – a um custo total de aproximadamente R$ 313 mil. A expectativa da professora Elisangela é de que a ressonância volte a funcionar em muito breve: “O técnico está aqui, acabou de chegar”, disse ela, ao telefone, enquanto nos concedia entrevista.
Texto: Ricardo Sangiovanni
Foto: Paulo Magalhães