Estudantes de graduação e de pós-graduação da Universidade Federal da Bahia poderão se beneficiar com bolsas de Iniciação Científica, Mestrado e Doutorado, financiadas com recursos do Programa de Bolsas Milton Santos, que será lançado às 17h, desta sexta-feira (17/06). A cerimônia, que acontece na antessala do Gabinete do Reitor, contará com a assinatura do Termo de Doação pelo Reitor João Carlos Salles e pela viúva do professor Milton Santos, Sra. Marie-Hélène Tiercelin Santos, que doará os fundos para o financiamento de 10 bolsas de Iniciação Científica, 3 bolsas de Mestrado e 1 bolsa de doutorado, sendo que 5 delas sempre serão destinadas à área de Geografia.
A finalidade é estimular estudantes a desenvolverem sua vida acadêmica, rememorando e mantendo viva a trajetória do geógrafo e intelectual baiano Milton Santos e incentivar o campo dos estudos sobre espaço, sociedade e cidade. Os beneficiados deverão desenvolver pesquisas, de diversos campos, mas que apresentem como problemática de trabalho questões referentes à cidade, à urbanização, ao espaço, ao território, à globalização, à geopolítica, à ecopolítica e à cidadania.
Serão disponibilizados mensalmente à UFBA a quantia de R$ 13.000,00 (treze mil reais), durante 5 anos, passíveis de renovação, devendo haver uma avaliação anual da experiência do programa com apresentação pública dos trabalhos desenvolvidos. Além disso, eles deverão também constituir um fundo de reserva, utilizando R$ 2.300,00 (dois mil e trezentos reais) mensais, destinados ao apoio e à participação dos bolsistas em eventos acadêmicos regionais e nacionais de relevância para a área de estudos. Os recursos seguirão as normas de bolsas da UFBA.
Comitê gestor
O processo de seleção para concessão das bolsas ficará a cargo de um comitê formado pela Pró-Reitoria de Pesquisa da Universidade Federal da Bahia que é composto pelos seguintes membros: Ana Fernandes (Faculdade de Arquitetura), que exercerá a sua presidência pelo período de 01 (um ano); Maria Auxiliadora da Silva (Instituto de Geociências); Angela Maria de Almeida Franco (Instituto de Humanidades, Artes e Ciências Professor Milton Santos); Charbel El-Hani (Instituto de Biologia) e Joice Pedreira Neves (Faculdade de Farmácia, representando a Pró-Reitoria de Pesquisa, Criação e Inovação).
O professor Milton Santos
O programa será possível graças aos recursos de aposentadoria deixados pelo professor à sua esposa, Marie-Hélène Tiercelin Santos. Milton Santos dedicou sua vida à elaboração de conceitos que pudessem transformar as próprias formas do pensar, reconfigurando as questões relativas à cidade e à urbanização, ao espaço, ao território. Esses conceitos problematizaram a realidade dos países então chamados de subdesenvolvidos, a partir de uma intrínseca relação com as conformações sociais e espaciais promotoras de desigualdades e delas resultantes. Mas a sua obra ia além da identificação de problemas, buscando, ao elucidá-los, estruturar outras formas para sua abordagem e compreensão intelectual.
Sem nunca abandonar suas raízes brasileiras e nordestinas, Milton Santos se viu obrigado a deixar o Brasil logo após o golpe militar de 1964. Instalou-se na França, onde atuou como professor convidado nas universidades de Toulouse, Bordeaux e Paris-Sorbonne, e no IEDES (Instituto de Estudos do Desenvolvimento Econômico e Social). Em 1971, aceitou convites fora da França, tendo passado pelo MIT (Massachusetts Institute of Technology – Boston) como pesquisador; e como professor convidado nas universidades de Toronto (Canadá), Caracas (Venezuela), Dar-es-Salam (Tanzânia) e Columbia (New York).
Retornando ao Brasil em 1977, Milton Santos enfrentou dificuldades para se reinserir no ambiente acadêmico. A UFBA, de onde foi demitido por “ausência”, durante a ditadura, o reintegrou aos seus quadros em 1995. No período que antecede a isso, ele deu aulas na UFRJ e tornou-se professor titular da USP em 1983, onde lecionou até sua aposentadoria.