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A UFBA acolhe gestantes e bebês com coronavírus, mas não aceitará transferência de responsabilidades que são do poder público

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A Universidade Federal da Bahia vem novamente a público externar estupefação e indignação diante dos ataques à instituição e à pessoa do reitor João Carlos Salles, inexplicavelmente perpetrados, nos últimos dias, por representantes do alto escalão do Governo do Estado e da Prefeitura de Salvador.
 
A UFBA entende que a episódica unidade entre Governo e Prefeitura, oportuna e já elogiada publicamente pelo reitor João Carlos Salles, deve ter um único inimigo comum: a pandemia do coronavírus, jamais a Universidade, que tem atuado firmemente na defesa da vida e da saúde da população, ombreando com a sociedade baiana e suas lideranças na luta contra a pandemia.
 
Demonstrada a irresponsabilidade que seria implementar leitos de atendimento a casos de Covid-19 no mesmo hospital onde funciona a Maternidade Climério de Oliveira — unidade docente-assistencial de obstetrícia, neonatologia e saúde perinatal da UFBA, administrada pela Ebserh, estatal federal que gere hospitais universitários — , os poderes estadual e municipal parecem ter eleito outra linha argumentativa para tentar lograr, a qualquer custo, a instalação de leitos para tratamento da Covid-19 no Hospital Salvador, onde a MCO funciona temporariamente, até agosto, quando deverá estar concluída a reforma de suas instalações no bairro de Nazaré.
 
Questiona-se, agora, à UFBA o porquê de não aceitar tornar a MCO unidade de referência para o tratamento de gestantes, mães e bebês com Covid-19. Alguns argumentos permitem compreender o posicionamento da Universidade:
 
1) A MCO, sobretudo enquanto instalada no Hospital Salvador, não reúne condições seguras para a implementação de serviço de referência para o coronavírus. Para este tipo de atendimento, não há infraestrutura predial adequada e faltam equipamentos fundamentais — sendo, portanto, mais razoável pressupor que investimentos públicos devam ser feitos em hospitais públicos e unidades de campanha. Esses argumentos foram expressos pela MCO em nota técnica enviada em abril à Secretaria de Saúde da Bahia (Sesab);
 
2) A MCO é unidade de referência para todo um conjunto de doenças de alto risco que acometem bebês e requerem internação em UTI Neonatal — condição que partilha com apenas duas das seis maternidades geridas pela Sesab. Isso significa que, se fosse transformada em unidade de referência para Covid-19, a MCO deixaria de prestar serviços fundamentais, que continuam sendo extremamente necessários durante a pandemia, prejudicando a população mais vulnerável e sobrecaregando um já deficiente sistema de atendimento;
 
3) A MCO possui leitos em condição de isolamento para atender aos casos de suspeita ou confirmação de Covid-19, em conformidade com a diretriz adotada pela própria Sesab, de que nenhuma de suas seis maternidades atenderia exclusivamente casos de Covid-19, mas que todas elas disponibilizariam leitos que poderiam ser isolados nesses casos. Portanto, é falsa toda tentativa de fazer parecer que gestantes, mães e bebês com Covid-19 não estejam encontrando acolhida e atendimento na MCO, bem como no conjunto do sistema de saúde da Bahia;
 
4) Se houvesse alteração nessa diretriz, deve-se questionar por que haveria de ser eleita a MCO  — maternidade da rede federal e única do Estado que não se encontra, momentaneamente, instalada em prédio próprio — unidade de referência para o atendimento da Covid-19. Convém lembrar que a MCO não é apenas uma maternidade, mas uma maternidade-escola, e que seu caráter formativo se perderia se passasse a atender somente casos de coronavírus.
 
A UFBA reitera que se colocou, a todo momento, aberta ao diálogo, mas que, infelizmente, não encontrou, nos poderes públicos estadual e municipal, a sensibilidade necessária para se chegar a uma saída razoável e equilibrada para o problema. A UFBA não aceitará que responsabilidades indevidas lhe sejam transferidas e manterá seu posicionamento, amparada em parecer do Ministério Público, nas decisões judiciais já emitidas e em um conjunto de pareceres técnicos. A Universidade reafirma, assim, seu compromisso com a saúde pública, pois entende que não se trocam vidas por vidas, e jamais fará política com a pandemia.