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Seminário lembra assassinato de 'Marcus Matraga' e aborda violência no campo

Integrantes do Acampamento Marcus Matraga

A partir das 18h desta quarta-feira (31/08)  acontece o seminário “A hora e a vez de Marcus Matraga: a violência no campo e os conflitos agrários no Estado da Bahia”, no Salão Nobre da Reitoria da UFBA, no Canela e com transmissão pela Internet em  aovivo.ufba.br/marcusmatraga.  O objetivo do evento é evidenciar o contexto de conflito agrário agravado após a morte do professor Marcus Vinicius de Oliveira  e que prossegue, vitimando a comunidade de Pirajuía, no município de Jaguaripe/BA.

A abertura oficial do evento será conduzida pelo reitor João Carlos Salles e a programação incluirá um espaço de memória da militância do professor Marcus Vinicius no campo dos Direitos Humanos e, especialmente, da Luta Antimanicomial Brasileira, com a presença de Marta Elizabete de Souza, coordenadora Estadual de Saúde Mental/MG, militante da Rede Internúcleos da Luta Antimanicomial – RENILA. Segue-se uma mesa sobre o contexto de violência associado ao assassinato do professor, com reflexões sobre a violência em comunidades tradicionais pesqueiras. Estão convidados o Secretário de Segurança Pública, familiares do professor Marcus Vinicius de Oliveira, o coordenador do projeto MARSOL – Maricultura Familiar Solidária, Miguel da Costa Accioly, Elionice Sacramento, representante do Movimento de Pescadores e Pescadoras/BA, entre outros.

 Seis meses decorridos desde o assassinato de Marcus, cuja investigação continua em andamento, mas sem que até agora qualquer suspeito tenha sido apresentado. Para que esse crime não seja esquecido, amigos e familiares do professor, com o apoio de instituições, vêm tomando iniciativas como a entrega de uma carta às autoridades, que já chegou às mãos do governador Rui Costa, dos secretários da Segurança Pública, de Meio Ambiente e de Justiça, Direitos Humanos e Desenvolvimento Social, da presidente do Tribunal de Justiça, da Procuradora-Geral de Justiça e do presidente da OAB Bahia. Esta carta foi assinada por dezenas de instituições, entre as quais os Conselhos de Psicologia de diversos estados brasileiros, a Comissão Pastoral da Terra, o Grupo Tortura Nunca Mais e a Reitoria da UFBA.  

 

Sobre o assassinato do professor Marcus Vinicius de Oliveira 

O assassinato do professor aposentado do Instituto de Psicologia da Universidade Federal da Bahia e importante liderança da Luta Antimanicomial brasileira, o Marcus Vinícius de Oliveira (Marcus Matraga), longe de ser um crime que se encerrou com a sua vida, tem sido um crime que segue à sua morte, trazendo a insegurança e o medo às pessoas que vivem em Pirajuía, distrito do município baiano de Jaguaripe, onde ele residia desde a sua aposentadoria.

Nos três meses que antecederam a morte do Marcus, três moradores da comunidade de Pirajuía foram assassinados. As investigações policiais sobre as condições do assassinato do professor e o processo de identificação dos seus respectivos responsáveis seguem em andamento. 

O Marcus Vinícius ficou conhecido na comunidade por ter acionado o IBAMA e ter se interposto entre o manguezal e a instalação de tanques de carcinicultura há alguns anos na comunidade. Esta foi a segunda vez que este tipo de empreendimento fora interditado por órgão de proteção ambiental na comunidade. Embora seja uma área da aquicultura bastante rentável, este tipo de empreendimento traz consigo uma série de impactos sociais e ambientais negativos, que recaem, via de regra, sobre os moradores locais. 

Atualmente, a comunidade tem se deparado novamente com esta ameaça, assistindo à construção do que supostamente será um grande empreendimento de carcinicultura em terreno ao lado da propriedade do Marcus Vinícius, chegando até a borda do manguezal que, em vida, ele tanto protegeu. 

Vale lembrar que Pirajuía se encontra a cerca de 17 quilômetros do Estaleiro Enseada do Paraguaçu. Este empreendimento, embora tenha tido as suas atividades paralisadas em 2015, já tem emitido sinais de retomada, mobilizando interesses políticos e econômicos naquela região. Pela comunidade de Pirajuía passa a principal estrada que liga o Estaleiro Enseada do Paraguaçu à BA-001, importante via de acesso ao Porto de Ilhéus. Nesse contexto, há grande expectativa de retomada dos fluxos de capital na região, conformando, junto com os “baixos” preços das terras por ali e com a potencial abertura de novos mercados, o complexo cenário do assassinato do Marcus Vinícius e de aumento da violência na comunidade de Pirajuía.