Docente do Bacharelado em Estudos de Gênero e Diversidade (FFCH/UFBA) e designer de Moda, Carol Barreto é convidada VIP da Semana de Moda Internacional - quarta edição da Black Fashion Week Paris, onde irá desfilar no Dia da Consciência Negra no Brasil, 20 de novembro, apresentando a “Coleção VOZES: Moda e Ancestralidades”, composta por 10 peças.
Nascida em Santo Amaro da Purificação, no Recôncavo Baiano, Carol Barreto é a primeira estilista brasileira a participar do evento. Em suas criações, assume a perspectiva anti-racista, elaborando produtos e imagens de moda a partir de reflexões sobre as relações étnico-raciais e de gênero. Seus trabalhos acadêmicos e práticos como artista, pesquisadora e designer estão intrinsecamente ligados e voltados para a construção de representações que empreendam uma comunicação mais consciente a ser atrelada ao consumo de moda.
Carol é também pesquisadora do Núcleo de Estudos Interdisciplinares sobre a Mulher (NEIM/UFBA), doutoranda no Programa Multidisciplinar de Pós-Graduação em Cultura e Sociedade - PosCultura (IHAC/UFBA) e coordenadora de Gênero e Diversidade do CEN – Coletivo de Entidades Negras. Ela acredita que a sua participação na Black Fashion Week, evento multicultural que foca na expressão da diversidade cultural negra por meio da moda, será de importante contribuição para a construção de visibilidade das mulheres negras brasileiras no campo da moda, contribuindo com as intenções do evento em expor a diversidade de criações assinadas por pessoas negras e negros.
A quarta edição da Black Fashion Week Paris acontece de 19 a 21 de novembro, na capital francesa. O evento propiciará a troca de experiência profissional e intercâmbio cultural com criadores de moda de diversos países do continente africano como Senegal, Camarões, Líbano, Benin e Marrocos, além de outros países que compõem o grupo da Diáspora Africana no Ocidente.
Sobre a coleção
A coleção VOZES evoca um debate sobre a pós-colonialidade e questiona o que significa ser fruto de um país que foi colonizado. Nessa história, os trabalhos manuais e artesanais foram centrais na manutenção do luxo de grupos privilegiados, bem como da condição de vida de muitas famílias trabalhadoras. Não se trata de moda étnica, mas da moda evidenciando as raízes do Brasil sem exotismo e sem estereótipos.
A coleção foi elaborada a partir do reaproveitamento de resíduos têxteis, doados por uma confecção. Os retalhos de tecidos africano, estampas florais e bases multicoloridas de fibras sintéticas e de algodão foram base para construção artesanal com técnicas de Manipulação Têxtil, em especial o Patchwork Geométrico e Orgânico A cartela de materiais é composta por tecidos pretos e off white de alta qualidade que com perfeição dos fios ao acabamento, misturam fibras naturais e tecnológicas como: linho + poliamida, algodão + poliamida, seda + viscose. Como complemento, elege o crochet em pequenos detalhes e joias feitas à mão em fio de seda para compor o styling.
Do recôncavo baiano, sua região de origem, a artista coletou narrativas que, materializadas por meio de um conjunto de técnicas manuais e da assinatura de diversas mulheres artesãs e designers, são o lastro da coleção que apresenta a nobreza do trabalho manual, desde a prática ao conceito de apropriação e resistência, concretizadas numa cartela de cores viva e multicolorida que contemplam brasilidade e ancestralidade.
A designer responsável pela coleção, Carol Barreto integra um projeto com diversos colaboradores com propósito de reparação do alcance do racismo na construção de representatividade no campo da produção de imagens no país, que ainda nega a existência desse problema histórico e socio-cultural. No âmbito do design de moda, ela destaca que o Brasil é um país carente em investimentos nas produções de estilistas negras e negros e no reconhecimento do trabalho de modelos negros e negras, que pouco têm espaço nas principais semanas de moda do país ao assumir essa identidade. O número de estilistas brasileiros negros em atuação e com projeção no mercado de moda nacional e internacional é menor ainda e mesmo na cidade de Salvador poucos profissionais negros e negras que assumem essa identidade e campo de pesquisa alcançam visibilidade local, nacional ou internacional.