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Pesquisadores de Berkeley e USP discutem sociologia pública na UFBA

Presidente da Associação Internacional de Sociologia

 

 

Entre os dias 18 a 20 de outubro, os sociólogos Michael Burawoy (Universidade da Califórnia, em Berkeley) e Ruy Braga (USP), ambos especialistas em Sociologia do Trabalho, estarão em Salvador para participar de uma atividade conjunta promovida pela UFBA, através da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas (FFCH), Centro de Recursos Humanos (CRH) e Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais (PPGCS). Nos dias 18 e 19, à tarde, no Pavilhão Raul Seixas, na FFCH, em São Lázaro, acontece minicurso ministrado pelos docentes visitantes, que terá o tema “Sociologia pública: para que e para quem?” como principal objeto de discussão. Na ocasião será desenvolvida, além de um debate sobre as diversas experiências de sociologia pública no mundo, a partir da exposição de Michael Burawoy, uma análise da experiência brasileira, quando Ruy Braga apresentará a sociologia pública no contexto da sociologia e das lutas sociais no Brasil. Interessados em participar da atividade podem se inscrever pelo e-mail socpublica@gmail.com.

No dia 20, às 11h, no auditório do CRH na FFCH, será realizado o lançamento do número especial do Caderno CRH – Trabalho, Precarização e Resistências, com uma mesa constituída pelos dois professores, que tratarão da temática sobre o trabalho e suas transformações na atualidade. Às 19h, no auditório da Faculdade de Economia da UFBA, haverá uma palestra sobre “Sociologia pública: para que e para quem?”, que tem por objetivo discutir esse tema com os diferentes públicos extra-acadêmicos.

Michael Burawoy é professor do Departamento de Sociologia da Universidade da Califórnia, Berkeley, conhecido como um etnossociólogo do trabalho. Em 2004 foi eleito presidente da American Sociological Association (ASA). Entre 2006 a 2010 foi vice-presidente para o Comitê das Associações Nacionais da International Sociological Association (ISA). E atualmente é presidente da International Sociological Association (ISA). Michael Burawoy possui várias publicações, dentre elas o livro “Por uma Sociologia Pública escrito com Ruy Braga, professor e vice-chefe do Departamento de Sociologia da Universidade de São Paulo, diretor do Centro de Estudos dos Direitos da Cidadania (Cenedic), secretário de redação da revista Outubro e organizador, juntamente com o Prof. Marco Aurélio Santana, do dossiê Sociologia Pública, do Caderno CRH n.º 56.

Principal expoente na defesa da Sociologia Pública, Burawoy defende a ideia de uma “prática sociológica” engajada com diferentes públicos extra-acadêmicos, que consiga conjugar o rigor de uma sociologia profissional com a intervenção no espaço público, pois o que poderia ser a sociologia se não um compromisso com diversos públicos sobre diferentes questões públicas? A partir desse questionamento, Burawoy introduz 11 teses polêmicas e estimulantes sobre a sociologia pública, argumentando que há quatro tipos de conhecimento sociológico que formam a divisão do trabalho na sociologia e que são interdependentes e complementares, sendo indispensável ao florescimento disciplinar: a sociologia profissional, a crítica, a pública e a para políticas públicas. Dessa forma, ele faz distinção entre duas noções de sociologia pública, a tradicional, que busca transformar os problemas privados em questões públicas por meio de um exercício especificamente sociológico de mostrar a conexão entre a microexperiência individual e a macroestrutura social, essa perspectiva entende que a educação sociológica viria de cima para baixo (é tradicional por que depende de visibilidade institucional para que tenha êxito). Já a sociologia pública orgânica, que trabalha nas trincheiras da sociedade civil, não depende da mesma visibilidade, pois vai mais além, o desafio estaria na negociação de três conjuntos de relações de poder: o primeiro dentro da comunidade acadêmica que, com freqüência, condena e rejeita tais engajamentos; o segundo entre os sociólogos e a comunidade com a qual eles se comprometem; e o terceiro, as relações de poder dentro daquela comunidade estudada.

Portanto, a proposta de Burawoy abre novas possibilidades para articular o pensamento sociológico e a ação social. O termo Sociologia pública tende a ficar cada vez mais conhecido, tanto no espaço acadêmico como em outros públicos na sociedade. A sociologia pública pretende ser, portanto, o campo da interlocução da sociologia com o público, com os diferentes públicos, e é daí que ela receberia sua validação social, é aí justamente que ela informaria, discutiria, entraria em contato e exerceria um papel civilizatório.

No Brasil, Ruy Braga tem sido o defensor e difusor da proposta de uma sociologia pública. Em seus textos tem discutido como se processa a trajetória da sociologia do trabalho brasileira, identificando as diferentes fases e campos do conhecimento sociológico (o profissional, o crítico, o público e o para políticas públicas) pelos quais foi marcada. Reflete assim sobre o lugar da sociologia pública no contexto da sociologia e das lutas sociais no Brasil, ontem e hoje.