Por Mariluce Moura
Da ecologia às doenças tropicais, da energia e meio ambiente à democracia digital, os oito institutos nacionais de ciência e tecnologia da UFBA aprovados pelo CNPq mostram a força e a diversidade da pesquisa científica baiana.
O Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Estudos Interdisciplinares e Transdisciplinares em Ecologia e Evolução (IN-TREE), coordenado por Charbel Niño El-Hani, professor do Instituto de Biologia da UFBA e bolsista de produtividade em Pesquisa do CNPq, nível 1-B, é a proposta submetida pela UFBA que aparece logo de cara (10º lugar) entre as 252 que compõem a nova lista dos INCTs divulgada na quarta feira, 11 de maio, pelo Conselho nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
O que é notável no INCT coordenado por Charbel, que vai desenvolver projetos temáticos na fronteira da pesquisa ecológica e evolutiva com foco no uso sustentável da biodiversidade, é a impressionante diversidade de disciplinas e atores acadêmicos e não acadêmicos que ele se propõe a mobilizar para gerar conhecimento e, ao mesmo tempo, sensibilizar e envolver a sociedade para um compromisso inovador com a sustentabilidade.
Assim, a colaboração com pesquisadores em ensino de ciências, por exemplo, permitirá a esse INCT construir e implementar “um robusto Programa de Educação em Ciência e Difusão de Conhecimento”, segundo o resumo da proposta apresentada por Charbel.
Demonstração da capacidade de criar redes institucionais desse instituto, uma das características necessárias dos INCT, está nos 49 laboratórios associados que o integram, ligados à UFBA, sua instituição-sede, à Universidade de São Paulo (USP), às universidades federais do Ceará (UFC), do Espírito Santo (UFES) e de Sergipe (UFS), às universidade estaduais de Feira de Santana (UEFS), Santa Cruz (UESC) e do Estado da Bahia (UNEB), mais o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial-Campus Integrado de Manufatura e Tecnologia (SENAI/CIMATEC), Fundação Getúlio Vargas (FGV) e Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM).
Além disso, O INCT IN-TREE “conta com extensa rede de colaboradores internacionais -- 45 pesquisadores de 37 instituições -- em diferentes países da Europa, América do Norte e América do Sul”.
Segundo Charbel, uma parte da rede do INCT, composta por seis laboratórios da UFBA, cinco da UEFS e um laboratório da USP, já existe desde 2010. E “foi esse núcleo de excelência que deu origem à estrutura organizacional e funcional que será implementada no INCT”.
Há um segundo INCT aprovado para a Bahia que mira o meio ambiente e a biodiversidade: o Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Meio Ambiente Marinho Tropical (INCT AmbTropic), coordenado por José Maria Landim Dominguez, professor do Instituto de Geociências.
Landim observa no resumo de sua proposta que “as mudanças climáticas deverão afetar as características físicas, biológicas e biogeoquímicas das zonas costeiras e oceanos, modificando sua estrutura ecológica, suas funções e os diferentes serviços prestados ao Homem”. Estas mudanças, diz, “têm o potencial de causar sérios impactos socioeconômicos nas escalas local (zona costeira), regional (plataforma e mares rasos) e global (oceano)”.
Acrescenta que “as respostas dos ambientes marinhos às mudanças climáticas irão também depender da variabilidade natural destes sistemas e de outras mudanças introduzidas pelo homem como resultado dos diferentes usos dos recursos marinhos”.
O bem-estar das comunidades humanas, diz ainda, depende intrinsecamente da disponibilidade dos serviços que os ecossistemas costeiros e marinhos proveem, questão particularmente importante para as regiões norte e nordeste, “que apresentam em alguns dos seus municípios costeiros, algumas das densidades populacionais mais elevadas do Brasil”.
Assim, o objetivo central unificador do INCT AmbTropic é avaliar como a heterogeneidade espaço-temporal dos ambientes marinhos tropicais poderá determinar os padrões de resposta destes ambientes e sua resiliência às mudanças climáticas que afetarão o norte-nordeste do Brasil neste século, algo de grande importância estratégica para a região.
Doenças tropicais
Muito bem posicionado entre as propostas de INCTs aprovadas (14º lugar) está o Instituto de Ciência e Tecnologia em Doenças Tropicais (INCT-DT), coordenado por Edgar Marcelino de Carvalho, que, além de professor da UFBA, é também pesquisador da Fiocruz-Bahia. A principal meta desse Instituto, segundo seu coordenador, “é atenuar o impacto das leishmanioses, doença de Chagas, esquistossomose, hanseníase e da infecção pelo HTLV-1 na saúde e desenvolvimento das populações acometidas por estas doenças”.
Para algumas destas doenças, como a infecção pelo HTLV-1, Edgar observa, ainda não existem drogas com capacidade de combater o vírus causador da patologia. Em outras, “embora existam drogas eficazes, o resultado do tratamento ainda não é satisfatório, porque o dano aos tecidos é predominantemente causado pela resposta imune do paciente e não pelo próprio parasito, como nas leishmanioses tegumentares, hanseníase e doença de Chagas”.
Dado que o desenvolvimento de uma vacina contra estas infecções ainda é uma perspectiva difícil de ser alcançada, o INCT-DT tem como objetivos “determinar como a relação patógeno-hospedeiro resulta em doença e, simultaneamente, desenvolver moléculas imunomoduladoras e testar agentes quimioterápicos já disponíveis com a finalidade de bloquear as respostas inflamatórias deletérias que impedem ou retardam a cura destas doenças”.
Democracia Digital
No âmbito das ciências humanas e, mais especificamente, da Comunicação, a UFBA contará com um INCT coordenado pelos professores Wilson da Silva Gomes e Othon Jambeiro, ambos da Faculdade de Comunicação (Facom) e bolsistas de produtividade 1-A do CNPq, voltado ao tema extremamente relevante da democracia digital.
O que a expressão recobre é, segundo o resumo do projeto, “o uso de ferramentas digitais para complementar, corrigir ou reforçar a democracia por meio de mais (e melhor) participação cidadã, transparência pública, governo aberto, deliberação pública etc”.
Ainda de acordo com o resumo, “as iniciativas de e-democracia conduzidas ou patrocinadas pela sociedade, por governos e por organizações locais, nacionais e multilaterais, na forma de projetos ou de ações espontâneas, têm se multiplicado globalmente e em grande velocidade, renovando expectativas de revigoramento das instituições e processos que sustentam a democracia liberal”.
Haveria uma nova onda de renovação da democracia propiciada pelas possibilidades abertas por plataformas, aparelhos e ambientes de conexão digital e “os usos sociais que daí podem derivar”. E isso teria o potencial de “ incrementar formas de governo e de governança mais transparentes e accountable, para promover participação política e engajamento cívico, e, consequentemente, para aumentar a legitimidade da própria democracia”.
Nesse ambiente, o INCT-DD poderá ser um centro de referência no país em e-democracia, articulado internacionalmente e agregando os grupos e laboratórios de pesquisa nacionais que atuam nas mesmas áreas temáticas.
O resumo do projeto encaminhado ao CNPQ incluiu entre os objetivos específicos do novo INCT os estudos do estágio atual da e-democracia no Brasil e no mundo e a formulação e aplicação de indicadores para avaliação e certificação de experiências de e-democracia.
O instituto contará de saída com 67 pesquisadores-doutores de 37 diferentes instituições, 44 deles atuantes no Brasil e 35 pesquisadores estrangeiros, da Austrália, de oito diferentes países europeus, dos Estados Unidos, Canadá e Chile. “O grupo internacional envolve pesquisadores de três dos quatro maiores centros de pesquisa mundial na área: o Center for Digital Citizenship (Universidade de Leeds, Reino Unido), o National Center for Digital Government (Universidade de Massachusetts Amherst) e o Berkman Center for Internet & Society (Harvard).
Sete grandes linhas na especialidade da democracia digital estarão no foco do INCT-DD: eParticipação, eDeliberação e esfera pública online, Governo eletrônico & parlamento digital, Transparência digital & governo aberto, Internet e sociedade civil & grassroots eDemocracy, Política em ambientes digitais e Códigos de privacidade & governança da internet.
Pesquisa em HIV
O INCT – CoBRA: coorte Brasileira em HIV-AIDS, coordenado por Carlos Alberto Brites Alves, professor da Faculdade de Medicina, pretende empreender uma avaliação sistemática da epidemia de HIV/AIDS no Brasil. Pata tanto estabelecerá uma coorte que permita a caracterização das comorbidades e coinfecções entre portadores de HIV e pacientes de Aids, para a definição dos padrões de reconstituição imune e seus determinantes, e o impacto destes fatores sobre a qualidade de vida e a mortalidade destes grupos.
Além disso, o instituto pretende estabelecer um monitoramento contínuo da variação molecular da epidemia de HIV-1 em nosso meio, desenvolver testes moleculares para monitoramento da viremia, e testes baseados em citometria de fluxo, mais simples, rápidos e baratos que os convencionais, para definição do tropismo do HIV-1 e mensuração de carga proviral de outro retrovírus, o HTLV-1/2. Por fim, se buscará implementar um programa de treinamento em pesquisa em HIV-AIDS, capaz de formar jovens pesquisadores capacitados a conduzir pesquisas de qualidade nesta área.
O INCT do HIV vai envolver oito instituições brasileiras nos estados do Amazonas, Ceará, Bahia, Espírito Santo, Paraná, e Rio Grande do Sul. O projeto tem três colaboradores internacionais, dos quais dois dos Estados Unidos, os doutores Kimberly Page (University of New Mexico School of Medicine) e David Watkins (University of Miami Miller School of Medicine), e um da Alemanha, doutor Jan Felix Drexler (University of Bonn).
Outros INCTs formados na UFBA, dos quais trataremos proximamente, são o de Ciência e Tecnologia em Geofísica de Petróleo, coordenado pelo professor Milton José Porsani, o de Ciência e Tecnologia em Doenças Tropicais, sob a coordenação do professor Edgar Marcelino de Carvalho, que é também pesquisador da Fiocruz-Bahia, o de Energia e Meio Ambiente, coordenado pelo professor Jailson Bittencourt de Andrade e o de Saúde, coordenado pelo professor Naomar Monteiro de Almeida Filho, professor também da Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB).
Fonte: Calendário das Ciências UFBA