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No Ciclo Mutações, Luiz Alberto Oliveira questiona legados deixados para novas gerações

Físico indagou “Que mundo que nós queremos?”

O físico, professor e curador do Museu do Amanhã do Rio de Janeiro, Luiz Alberto Oliveira falou sobre “Novas Configurações do Mundo”, em conferência do Ciclo Mutações, realizada no dia 13/10, no Salão Nobre da Reitoria da UFBA. O tema abordado está diretamente relacionado com o conceito de mutações que foi incorporado ao ciclo de reflexões promovido pelo filosofo Adauto Novaes há 30 anos.

As mutações em constante processamento no mundo foram ressaltadas pelo conferencista, transformações que se dão em nível planetário, nas civilizações, nos ecossistemas, nas células mais básicas, no genoma humano. O exemplo da evolução biológica foi empregado para demonstrar a alterações das formas da natureza e dos seres vivos que ocorrem a todo o momento.

O físico falou sobre o material genético que carrega as instruções para o funcionamento e reprodução dos organismos. “Uma única célula tem mais componentes que um boing”, disse. Ao apresentar um erro de reprodução em comparação com a sua matriz, essa célula passa a carregar uma nova versão de seu “manual de instruções”. A partir de então, surgem dois formatos que passam a ser reproduzidos.

“A unidade formativa da vida é frágil, permitindo erros que acabam por se multiplicar e ocasionam uma mudança das formas”, afirmou o conferencista que se referiu à noção de “errância” como um processo que conduz a um lugar novo, no qual o erro não é visto como algo necessariamente negativo. No seu entendimento, esse é um processo que provoca mudanças e leva a novas formas que caracterizam a evolução dos organismos, que por sua vez influenciam e são influenciados pelos ecossistemas e fenômenos da natureza.

Mudanças geológicas, como a formação de ilhas, por exemplo, exercem influências sobre os seres vivos e suas novas variantes. Em geral, destacou Luiz Oliveira, as mudanças ambientais são processos que acontecem lentamente, duram milhares de anos, contrapondo-se ao ritmo acelerado de mudanças nas formações bioquímicas das células e dos seres vivos. Ele apontou que há uma certa imprevisibilidade nesses processos que faz com que algumas formas prosperem e outras não.

O físico e doutor em Cosmologia chamou atenção para o fato de que a civilização humana está modificando o habitat no qual ela própria se engendrou, e disse que isso terá consequências imprevisíveis. Deu como exemplo o Mar de Aral, localizado na Ásia, um dos maiores lagos de água salgada do mundo, que passou a ser utilizado para projetos de irrigação e acabou secando em três décadas. As novas gerações, dessa maneira, passarão a viver em um mundo diferente daquele experimentado por seus ancestrais.

Em sua fala, Luiz Oliveira abordou ainda as mutações artificiais que podem ser processadas com o objetivo de formatar a herança genética, realçando ou apagando certas características por meio de alterações no genoma, o que ele considera “uma ação técnica que multiplica as incertezas”. Os seres que forem morar em Marte, refletiu, podem, no futuro, serem geneticamente modificados para se adaptarem a esse novo habitat, investindo-se no aumento de suas capacidades pulmonares, por exemplo. “Esses seres seriam reconhecidos como humanos? A civilização terráquea precisa refletir sobre uma série de questões políticas e éticas”, afirmou.

Segundo ele, as crises no mundo contemporâneo são tantas, tão disseminadas e constantes, que não se pode falar que há uma crise, mas várias crises em um mundo em acelerada transformação. “O que era uma exceção, virou regra”, disse. O conceito de mutações passou a ser utilizado também para dar conta desse estado de coisas. Tem a ver com a construção de novos conceitos, contrapondo-se à ideia de crise como um movimento cíclico, como um espasmo periódico, que ocasionalmente pode levar à uma revolução que venha estabelecer uma nova ordem emergente.

 “Nós somos o manual de instrução que está errando e a partir de nós uma nova geração será formada”, disse o físico, que propôs que a geração atual constitua uma ponte entre o passado e o futuro, escolhendo valores que fomentem a vida. Ele afirmou que há condições técnicas hoje para assegurar o bem-estar humano maiores do que em qualquer outro tempo. Disse que as competições e as guerras são desnecessárias, sugerindo transferir os investimentos em armamentos para ajudar a converter a adaptação do planeta à presença humana e indagou-se “Que milagres podem advir daí?”.

Luiz Alberto Oliveira observa a civilização atual como uma força de transformação em escala planetária, que está moldando o mundo em que viverão os seus descendentes. Diante dessa constatação, compartilhou com o público presente questões como “Que mundo que nós queremos?” e “Que valores queremos passar paras as novas gerações?”.

O Ciclo Mutações prossegue com as seguintes palestras que podem ser acompanhadas ao vivo pelo link aovivo.ufba.br/mutacoes :

17/10 - Eugênio Bucci - Muito além do espetáculo

19/10 - Francisco Bosco - O homem máquina

21/10 - Jorge Coli - Fontes passionais da violência

26/10 - Marcelo Coelho - O silêncio dos intelectuais

31/10 - Marcelo Jasmin - Tempo e história

25/11 - Guilherme Wisnik - O futuro não é mais o que era