“Compartilho essa honraria com o povo do Brasil que grita suas grandes dificuldades e infinitas belezas”, disse a cantora Maria Bethânia Viana Teles Veloso durante a sessão solene promovida pela Universidade Federal da Bahia, que a reconheceu como Doutora Honoris Causa por sua contribuição à cultura nacional. A homenagem foi composta por intervenções artísticas e apresentações musicais. Maria Bethânia foi recebida ao som de atabaques e foi aplaudida de pé pelo público presente, cena que se repetiu com entusiasmo por muitas vezes durante a noite.
A entrega do título honoris causa à artista baiana foi realizada na sexta-feira (09/12), no Salão Nobre da Reitoria da UFBA, com a participação de muitos amigos, familiares, admiradores e autoridades públicas. O reitor João Carlos Salles falou de seu encantamento com o talento múltiplo de Maria Bethânia e com a sua presença artística no palco. Ele ressaltou a significativa contribuição da homenageada para a valorização e divulgação da música, poesia e literatura. Disse que a outorga do título à artista é uma reconhecimento natural por sua atuação em prol da cultura do país e classificou a homenagem como “um momento luminoso em tempos tão sombrios”.
A professora decana da Faculdade de Arquitetura Griselda Kluppel falou sobre o processo de outorga do título a Maria Bethânia, que foi uma iniciativa da Faculdade de Arquitetura e das Escolas de Belas Artes, Teatro, Dança e Música, que reconhecem a sua voz e sua poesia como dois importantes patrimônios imateriais brasileiros. A homenagem à cantora baiana que nasceu no mesmo ano de fundação da UFBA, em 1946, acontece junto com celebração dos 70 anos da Universidade.
Representando as escolas de artes da UFBA, o diretor da Escola de Teatro Luiz Claudio Cajaíba relembrou a trajetória profissional de Maria Bethânia, que estreou profissionalmente em 1965, quando substituiu a cantora Nara Leão no espetáculo Opinião, do Teatro de Arena, dirigido por Augusto Boal, no Rio de Janeiro. Em sua fala, ele destacou a atuação decisiva de Bethânia para dar visibilidade a muitos compositores e poetas ao longo de 50 anos de carreira e sua contribuição para a afirmação estética e identitária da cultura baiana e nacional.
“Artista popular inscrita no cancioneiro brasileiro como uma das maiores cantoras que esse país já viu surgir”, foi assim que a atriz Meran Vargens definiu a homenageada, ressaltando a sua força criativa, integridade e coerência artística. Vargens lembrou que Bethânia foi a primeira mulher a atingir a marca de um milhão de discos vendidos no país – com o álbum Alibi (1978) – e falou sobre a sua iniciativa de criar o selo musical Biscoito Fino, que que tem incentivado o surgimento de novos artistas.
“A filha de Santo Amaro, a menina dos Olhos de Oyá é agora Doutora Maricotinha”, festejou a cantora, que agradeceu todas as palavras de carinho que lhe foram ditas durante a cerimônia na UFBA, desejando vitória a essa casa de ensino, força e coragem aos professores, empenho e disciplina aos estudantes. “Desejo um Brasil educado e, portanto, livre”, disse Maria Bethânia que voltou a ser bastante aplaudida por defender “uma educação pública de qualidade”. Para encerrar a sua participação, entoou os versos “vou aprender a ler, para ensinar aos meus camaradas”, da música Yá Yá Massemba, de Roberto Mendes e Jorge Portugal.
Participaram da sessão solene o vice-reitor da UFBA Paulo César Miguez, o secretário estadual de cultura Jorge Portugal, representando o governador Rui Costa, o vereador e ex-governador da Bahia Waldir Pires, o reitor da Universidade Federal do Recôncavo Baiano Sílvio Luiz Soglia e a yakekerê do terreiro no Gantois Ângela Ferreira. Também mercaram presença artistas e amigos da cantora, entre os quais José Carlos Capinan, Tuzé de Abreu e Margareth Menezes.
(Foto: Ramana Vasconcelos)