O reitor da UFBA, João Carlos Salles, por volta das 9 horas desta quinta-feira (15.03), abriu a sessão de debates no salão nobre da reitoria “A Universidade e a educação no contexto da resistência democrática”, que tomaria toda a manhã, falando do assassinato de Marielle Franco. Ele mostrou o livro que a editora da UFBA (Edufba) tinha lançado há poucos dias, “O Golpe na perspectiva de Gênero”, organizado por Linda Rubim e Fernanda Argolo, para destacar justamente o capítulo escrito pela vereadora: “Mulher, negra, favelada e parlamentar: resistir é pleonasmo”. Pediu um minuto de silêncio em sua homenagem, e a cena que se seguiu foi esmagadora: mais de 300 pessoas em silêncio com o braço direito erguido e punho cerrado.
“As universidades precisam se descolonizar, se despatriarcalizar e se desmercantilizar”, deliberou o sociólogo português Boaventura Souza Santos, como alternativa de resistência das universidades públicas e em defesa da educação para os povos da América Latina. O intelectual oriundo da Universidade de Lisboa participou da mesa juntamente com o ex-reitor da Universidade de Córdoba, Francisco Tamarit; as reitoras das universidades federais de Brasília, Márcia Abrahão Moura e de São Paulo, Soraya Soubhi Smaili e a presidente da Associação Nacional de Pós-Graduandos.
O professor Santos refletiu sobre o porquê de as universidades públicas serem os mais recentes alvos de ataques "das forças golpistas e reacionárias". Ele desenvolveu seu raciocínio lembrando a trajetória dessas instituições que “passaram grande parte de sua existência formando as elites e se distanciaram dos povos das favelas, das quebradas, das florestas, indígenas e quilombolas. Agora que as elites são formadas nas universidades estrangeiras do Norte, elas não interessam mais ao Estado, daí, o estrangulamento financeiro a que são submetidas”, asseverou em debate integrante do eixo “Educação e ciência, para emancipação e soberania dos povos” do Fórum Social Mundial 2018.
Além da contenção dos recursos, há as ameaças jurídicas, acentuou a reitora da UnB, Márcia Moura. Desse modo, as universidades precisam “formar novas alianças e definir quem são seus aliados”, disse a reitora da Unifesp, Soraya Smaili. E o ex-reitor da Universidade de Córdoba, Francisco Tamarit, também assegurou que “a universidades pública tem tudo a ver com os movimentos sociais, temos que ser parte da emancipação dos povos. Precisamos estar juntos e unidos. Não podemos ficar cada um isolado com seus problemas”, disse o professor. “É preciso formar uma rede de proteção aos direitos que foram conquistados com muita luta e agora estão ameaçados ou já foram retirados", acrescentou a reitora da UnB.
Boaventura Santos foi mais longe e, além de visualizar, propôs a criação de uma rede das universidades públicas do Sul – América Latina e Caribe “como resistência aos ataques dos golpistas, forças reacionárias e o fascismo que se esboça nos estados”. “O momento é de resistir, reagir e organizar para transformar”, disse a reitora da Unifesp, destacando que no Brasil são 63 universidades públicas federais, com um sistema sofisticado e pessoal capacitado. "Por isso, somos muito visados. Somos uma grande força e não podemos nos subestimar!” “Temos que ter consciência de que somos muitos, mas não somos multidão, temos ideias, mas estamos desorganizados", concluiu Boaventura.
A presidente da Associação dos Estudantes de Pós-Graduação, Tamara Laís, falou em nome dos estudantes defendendo a universidade pública e gratuita como foco de resistência e pensamento livre. “O ensino público precisa ser visto como um direito humano universal, um bem público e social, responsabilidade do Estado, por isso temos que nos unir para defender a educação gratuita em universidades públicas, na Conferência de Córdoba, que acontecerá no próximo mês de junho e reunirá reitores de toda América Latina e Caribe”, finalizou Tamarit.