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A Escola Politécnica celebra 120 anos

Trajetória de excelência com formação de qualidade

A engenharia da Bahia está celebrando 120 anos de sua Escola Politécnica. Nascida Polytechnica em 1897, num Brasil ainda jovem como República, quase meio século depois, ela seria uma das quatro instituições de ensino superior pré-existentes fundamentais à criação da UFBA – as outras eram medicina, direito e filosofia.

“A existência de uma instituição que está há 120 anos produzindo conhecimento e formando profissionais com excelência e qualidade é algo para ser celebrado sempre”, afirma a diretora da Politécnica, professora Tatiana Dumêt. Para comemorar a trajetória da Escola, foram programados eventos, abertos à comunidade, até 31 de março, entre eles, lançamento de livro, torneio de futsal, palestras sobre recursos naturais, história da politécnica e metodologia de ensino superior.

Criada em 14 de março de 1897, a Escola Politécnica instalou-se num prédio no Terreiro de Jesus, onde ficou por quatro anos. Sua origem, no entanto, foi pensada um ano antes, por meio da implantação do Instituto Politécnico da Bahia. O fundador de ambas as instituições foi o engenheiro civil e bacharel em matemáticas, Arlindo Fragoso. Natural de Santo Amaro da Purificação e de família rica, sua formação acadêmica aconteceu na Escola Politécnica do Rio de Janeiro, então capital do império Brasil.

Apesar da dupla formação, o criador da Escola Politécnica acumulava outros papéis, conforme anuncia o professor aposentado pela UFBA, Caiuby Costa, autor da biografia sobre o engenheiro publicada em 2016. Ele aponta que Fragoso foi professor e diretor da Escola, administrador, jornalista, escritor, empreendedor e político. Seu caráter multifacetado, inclusive, possibilitou que criasse também a Academia de Letras da Bahia em 1917. Costa, que ocupa hoje a função de diretor do Instituto Politécnico e já esteve também à frente da direção da Escola, fala sobre a característica de exímio planejador de Arlindo, fator que possibilitou trabalhos em diferentes áreas. Em sua opinião, o engenheiro de mil faces foi um pensador preocupado em impactar o mundo a sua volta.

“Pro scientiaindustria et pátria” era o brasão da Escola Polytechnica da Bahia, mesmo lema da bandeira da Escola Politécnica de Paris, inspiração de Fragoso ao pensar a Escola baiana. De acordo com Costa, os desafios financeiros e sociais marcaram o início da Polytechnica. “A elite brasileira nunca valorizou a área tecnológica no país”, aponta, razão pela qual, possivelmente, os vizinhos de Medicina deram à Escola o apelido jocoso de “Escola do Arlindo”.

A biografia sobre Arlindo Fragoso apresenta também seus trabalhos no papel de engenheiro, função que desempenhou, entre outros projetos, na reforma do palácio do Rio Branco, no aterro sanitário da Cidade Baixa e na construção da Avenida Sete de Setembro. Sobre esta última obra, é considerado pelo historiador e professor emérito da UFBA, Fernando da Rocha Peres, um demolidor. “O projeto de Arlindo Fragoso é devastador. Planificou a Avenida Sete desde a Cidade Baixa, pela ladeira de Água-Brusca, destruindo grande parte do Pelourinho, centro de histórico e a igreja da Sé”, lamenta Peres.

A Escola Politécnica teve três casas em sua trajetória pré-UFBA: foi da sede no Pelourinho, à praça do Piedade (1901 – 1904), seguindo então para o Largo de São Pedro (1905 – 1960) – local que também recebeu a interferência estética de Fragoso. O decreto nº 9.737 de 1946 federaliza a Escola Politécnica que, nos últimos anos, estava sob esfera estadual. Assim, a partir deste documento, ela é integrada à UFBA. A mudança pede uma nova casa, um terreno de 87.000 m², na rua Aristides Novis, Federação, é assim adquirido na gestão do primeiro reitor da UFBA, Edgar Santos. Em 1960, a Escola Politécnica da UFBA é transferida para atual sede.

Além da rica história, a Escola Politécnica tem um importante papel de formação para o país e Estado, na opinião de Costa: “antes de formar engenheiros, a Escola formou cidadãos”. Ele destaca que, até os anos 1930, a maioria dos prefeitos de Salvador e de outras cidades eram engenheiros formados pela Escola e ocupavam diversos cargos de projeção nacional. E ressalta que professores e estudantes atuaram também na produção científica, com muitos pontapés tecnológicos de projeção nacional, a exemplo da utilização, pela primeira vez que se tem conhecimento no país, entre 1923 e 1925, de álcool como combustível de carro, uma experiência realizada em viagem a Camaçari pelo então professor da Escola Politécnica da Bahia, Américo Simas.

Escola Politécnica abriga atualmente 11 cursos: engenharia civil, mecânica, elétrica, de minas, química, sanitária e ambiental, engenharia de produção, computação, controle e automação, agrimensura e cartográfica, além do curso superior tecnólogo de transportes terrestres; na pós-graduação, tem 8 cursos de mestrado e 13 de doutorado. Conta com acervo museológico composto por 47 obras de arte distribuídas em: 31 telas, 10 fotografias e 6 molduras, datadas dos séculos XIX e XX. O acervo de telas da Escola Politécnica é composto de pinturas na técnica óleo sobre tela, todas elas retratando antigos mestres que se destacaram ao longo da vida da instituição, seja ocupando cargos de direção, chefias de departamento ou pela competência no desempenho didático.

Na opinião da diretora da Politécnica, Tatiana Dumêt, a Escola Politécnica proporcionou o desenvolvimento de áreas importantes às cidades e às pessoas, destacando, assim, a importância da engenharia no dia-a-dia. Ela destaca o papel de protagonismo da profissão em questões relacionadas à moradia, rede de comunicação, combustível, mapas, ambiental, sustentabilidade, entre outras. E pontua: “tudo que fazemos hoje tem a engenharia envolvida, por isso é fundamental a presença de engenheiros para a transformação de diversos setores. Ter engenheiros bem formados, que possam contribuir para um progresso com responsabilidade é, assim, uma meta a ser continuamente seguida”.

 

Fonte: EdgarDigital