O momento político brasileiro e temas como o debate público, democracia e comunicação deram o tom no fórum "Ética, legalidade e democracia na atual conjuntura política brasileira", na tarde da sexta-feira 15, na sala de videoconferência do Instituto de Geociências da UFBA, campus de Ondina.
Em um dos momentos mais esperados do fórum, o jornalista Ricardo Melo, presidente da Empresa Brasileira de Comunicação (EBC), contou o episódio em que foi exonerado do cargo pelo presidente interino Michel Temer e, imediatamente, reagiu recorrendo à Justiça, invocando seu direito legal de concluir o mandato à frente da maior empresa pública de comunicação do país. No dia 2 de junho, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Dias Toffoli, concedeu a liminar que garantiu o retorno de Melo à presidência da EBC e a legalidade do mandato de quatro anos.
Ricardo Melo prosseguiu ressaltando o papel estratégico da comunicação pública e privada no contexto atual. "Não há solução para a comunicação pública no Brasil se não contextualizarmos a comunicação neste cenário. Nós estamos vivendo a 'desordem e o regresso'", disse ele fazendo referência ao lema da bandeira nacional. Antes de encerrar a fala o jornalista criticou a monopolização de grandes veículos de comunicação no Brasil, que se configura como mais um obstáculo à democracia.
A jornalista Maria Inês Nassif, com passagem por grandes jornais de circulação nacional em São Paulo e Brasília, também participou do evento. Relatou ter acompanhado o processo de redemocratização brasileiro pós-ditadura militar e destacou o sentimento atual de muitos brasileiros diante do frágil estado democrático de direito que se percebe no país. "Estamos em um momento de perplexidade por não entender a forma como as coisas estão acontecendo", afirmou.
Além de fazer parte da programação do congresso, o fórum foi um evento prévio do Fórum Social Mundial (FSM) 2016, que acontece em agosto, no Canadá, organizado por seu Coletivo Baiano. O reitor da UFBA, João Carlos Sales, prestigiou o debate que contou com a participação de professores, pesquisadores, jornalistas e militantes políticos.
O professor Zilton Rocha coordenou as mesas e ressaltou a importância do momento para discutir e analisar a situação do país. "O caso (político) brasileiro tem uma gravidade maior pelo peso específico de expressão populacional, econômica e geográfica do nosso país. Fazer esse debate é mais do que oportuno e pertinente".
Na primeira parte do fórum, integraram a mesa Gilberto Leal, membro da Coordenação Nacional de Entidades Negras (Conen), Cinzia Barreto (OAB/Bahia), Sara Cortes, professora da Faculdade de Direito da UFBA e o militante político Walter Takemoto.
Cinzia Barreto destacou que a forte movimentação política no país e a promoção de debates em torno do afastamento da presidente Dilma Rousseff fazem parte da luta pela democracia. "Estamos no curso de um processo político muito peculiar. A preocupação que emerge é com o futuro da democracia", afirmou a advogada ao colocar em debate o posicionamento de instituições como a Ordem dos Advogados do Brasil, sendo opostos ou favoráveis ao impeachment, como foi o caso do conselho baiano.
O assunto também foi tema da fala da professora Sara Cortes, que observou como a chamada "resistência democrática" pode ser uma das marcas históricas desse momento brasileiro. Ela A abordou ainda a participação do Poder Judiciário como protagonista em muitas decisões de interferência direta no campo político e criticou o que disse ser a "espetacularização e partidarização da Operação Lava Jato".