No primeiro dia de discussões no Congresso, um ataque terrorista na França. No segundo, um golpe na Turquia: as tensões mundiais estão cada vez mais presentes e apontam para uma crise geral. O contexto político, econômico e social da crise mundial foi o foco da discussão do Grupo Processos de Hegemonia e Contra-Hegemonia da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da UFBA, no sábado, 16, no Instituto de Geociências.
Participaram da mesa os professores Jorge Almeida, Jorge Nóvoa e Luiz Filgueiras, com a mediação do professor Jair Batista, do departamento de sociologia da UFBA. Os palestrantes discorreram sobre o fato de “as várias crises do capital” confluírem para uma desestrutura em vários níveis, de proporção global. “Vivemos uma crise econômica, financeira, energética, cultural, política, de hegemonia e do Estado”, explicou Jorge Almeida, professor de ciência política da UFBA.
Essa crise, na opinião do professor do departamento de sociologia Jorge Nóvoa, “não é apenas uma crise superestrutural do capitalismo, mas uma crise da modernidade”. Em sua análise, o cerne da questão é a impossibilidade do capital de se reproduzir ao infinito. O capitalismo, assim, estaria em decadência – o que não significaria, no entanto, um pretenso ressurgimento do socialismo.
Historicamente, o modelo capitalista foi marcado por crises cíclicas e, para o professor do curso de economia da UFBA, Luiz Filgueiras, “a solução que o capitalismo dá para suas crises é sempre momentânea”. Diversos fatores resultariam na generalização da desordem, como o imobilismo da classe trabalhadora, fruto da individualização e passividade do homem contemporâneo. “Não há possibilidade de ter uma solução dentro do atual padrão de desenvolvimento capitalista”, ressalta o professor. Porém, para os palestrantes, o socialismo só seria uma realidade plausível se suas ideias originais fossem seguidas, alertando a população da deturpação na execução na antiga União Soviética.
A crise impacta diretamente na democracia e em questões sociais, mas é resultado da lógica de organização da própria sociedade. Luiz Filgueiras completa: “as forças sociais e políticas que podem se contrapor a essa lógica financeira do capital não são fortes o suficiente do ponto de vista da ação política prática para colocar uma proposta alternativa. A consciência dessas forças faz o padrão de desenvolvimento em crise não avançar.”