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Análises do Lepetro/Igeo indicam correlação entre óleo encontrado nas praias do Nordeste e petróleo venezuelano

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Pesquisadores do Lepetro (Centro de Excelência em Geoquímica do Petróleo, Energia e Meio ambiente do Instituto de Geociências da UFBA) realizaram, por iniciativa própria, análises de amostras do petróleo encontrado nas praias da Bahia e de Sergipe e concluíram que há uma forte correlação do óleo derramado no mar com um dos tipos de petróleo que é produzido na Venezuela.

Em Nota Técnica - que será encaminhada exclusivamente ao Instituto de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Inema), órgão do Governo do Estado - , os pesquisadores afirmam também que nenhum dos tipos de petróleo produzidos no Brasil apresenta a distribuição de biomarcadores e a razão de isótopos de carbono (elementos que permitem a identificação da bacia petrolífera de produção) presentes nas amostras analisadas.

A coleta de amostras ao longo da costa sergipana foi realizada em parceria com Universidade Federal de Sergipe (UFS). Outra frente de trabalho, formada por pesquisadores da UFBA e da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS), deslocou-se para coletar amostras no município de Conde, primeira região costeira contaminada no litoral baiano.

Das 27 amostras coletadas, nove foram selecionadas para análises geoquímicas, sendo sete da costa sergipana e duas da costa baiana. Os estudos sequenciais realizados em laboratório permitiram identificar os biomarcadores, compostos químicos que não se decompõem facilmente e fazem referência a determinados ambientes sedimentares e eras geológicas e permitem identificar o ambiente e o período em que viveram os organismos que deram origem ao petróleo. Trata-se de um trabalho de geoquímica forense, fundamental para a identificação das características e do local de produção do petróleo. “É como se fosse uma impressão digital do óleo”, explica a professora Olívia Oliveira, diretora do Instituto de Geociências (Igeo) e vice-diretora do Lepetro.

Além disso, em parceria com o Laboratório de Isótopos Estáveis (Lise) do Instituto de Física da UFBA, foram feitas análises da razão isotópica de carbono das amostras de óleo. Os resultados dessas análises geoquímicas foram comparados com resultados de análises de petróleos constantes na literatura e também com os que compõem o Banco de Óleos do Lepetro, que detém um conjunto amostras de óleo de diferentes bacias petrolíferas brasileiras e dos principais países produtores.

Através dos resultados das análises dos biomarcadores e dos isótopos estáveis de carbono, observou-se uma forte correlação do óleo derramado no mar com um dos tipos de petróleo que são produzidos na Venezuela. Contatou-se ainda que nenhum dos petróleos gerados por matéria orgânica marinha produzidos no Brasil apresenta tal distribuição de biomarcadores e razão de isótopos de carbono.

A partir das análises por cromatografia gasosa (fingerprint), observou-se que as amostras indicam que pode se tratar de petróleo cru, que perdeu sua a fração de hidrocarbonetos leves por evaporação, além de acentuada migração da linha de base, devido ao aumento relativo dos compostos mais pesados, que não são resolvidos cromatograficamente. Porém, considerados o longo tempo em que esse material está no mar ou nas praias e sua alta viscosidade, não é descartada a possibilidade de o material ser “bunker” (combustível de navios).

O centro de excelência da UFBA tem uma equipe multidisciplinar composta por geólogos, químicos e biólogos e é um dos únicos no país com capacidade técnica e infraestrutura para realizar as análises necessárias para identificar a origem do petróleo. Daí a iniciativa dos pesquisadores de coletar e analisar o material encontrado nas praias, que pode contaminar áreas de manguezal, ecossistema considerado berçário da vida marinha – o que torna o caso de interesse da sociedade brasileira.

Especialistas do Instituto de Biologia da UFBA, que também participam do estudo, estão colaborando com o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama) para o diagnóstico da situação dos ecossistemas marinhos das regiões baianas afetadas. O trabalho de limpeza das praias está sendo realizado pelo Ibama, que informou, em nota, estar procedendo a avaliação do impacto ambiental e das ações de resposta à fauna nas regiões atingidas. Até a quarta-feira, 9 de outubro, o órgão havia contabilizado 138 localidades atingidas em 62 municípios de 9 estados do Nordeste. Além disso, já foram encontradas 11 tartarugas mortas em razão do óleo.