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“Museu Afrodigital” aborda temática negra no Congresso da UFBA

Objetivo é repensar políticas museólogicas

O terceiro dia do Congresso comemorativo pelos 70 anos da Universidade Federal da Bahia abriu as portas para um tema importante, mas muitas vezes esquecido: cultura negra e a forma como é projetada no mundo dos museus e das exposições. Esta foi a linha condutora do fórum “O Museu Afrodigital”, debatido na tarde deste sábado (16). Lançado em 2009 e coordenado por cinco professores de universidades brasileiras, entre eles, Lívio Sansone e Jamile Borges da UFBA, o projeto pioneiro “Museu Digital da Memória Africana e Afro-brasileira” busca repensar o tema das relações raciais através de uma plataforma 100% digital e acessível, em que é apresentado o cotidiano dos diálogos étnicos raciais na Bahia, ultrapassando, desse modo, os registros da memória da escravidão e da dor.

Segundo os pesquisadores, a intenção do museu é recuperar as imagens e representações de uma herança negra tecida às margens da história “oficial”. Para isso, buscam exibir outras possibilidades, como os registros da vivência, do trato, do modo de produção e das relações de trabalho desta população. “A ideia é que as pessoas disponibilizem digitalmente seu acervo para que todos tenham cada vez mais acesso. É o que chamamos de ‘generosidade digital’. Buscamos criar um mecanismo em que todos os interessados no assunto fiquem satisfeitos”, explica Sansone.

Porém, manter uma plataforma totalmente online, colaborativa e sem espaço físico, apresenta desafios que ultrapassam o museu tradicional, a exemplo da preocupação com volume e qualidade das informações, além da conservação, preservação e longevidade digital. “Precisamos pensar em mecanismos que assegurem a eficácia do museu e que esta não se perca, caso ocorra mudanças tecnológicas, por exemplo”, alerta Borges.  

Além da Bahia, o museu apresenta estações em quatro estados no Brasil, lideradas pelos pesquisadores Myrian Sepúlveda (UERJ), Gabriel Cid e Marialice Gonçalves (UFPE), Antônio Motta (UFMA), e uma em Portugal, sob a responsabilidade do professor Pedro Pereira Leite, da Universidade de Coimbra, sendo que a da UFBA tem a função de coordenação geral. “É uma rede que foi pensada nesses parceiros, sabe? Já tínhamos projetos amparados no Rio de Janeiro, Maranhão, Pernambuco e Mato Grosso. Quanto a Portugal, buscamos por essa relação transitória e pós-colonial que se estabeleceu. Virou uma questão de pensar as problemáticas afro-diaspóricas dos dois lados do atlântico”, adverte Borges.

A estudante Indiara Sampaio esteve presente na apresentação e aprovou o discurso. “Gosto dessa relação com a africanidade e quis conferir o debate. Busco conhecer melhor nosso conteúdo ancestral e aqui me deparei com isso e a possibilidade de reconhecer os problemas de manter um museu desse porte”, observa. Para o futuro do museu, a professora Borges admite: “Quem saber trazer a África para Bahia. Não apenas com a vinda de intelectuais e pesquisadores, mas pensar uma África contemporânea, tecnológica, da moda; aquela que produz tudo como uma grande metrópole”, finaliza.

 

Foto: Ramana Vasconcelos