Vislumbre-se uma sala segura de 300 metros quadrados distribuídos em dois pisos no Parque Tecnológico da Bahia, ligada por um cabo privativo de fibra óptica a um computador de alto desempenho, ou melhor, um cluster computacional de alta velocidade instalado a certa distância, no Senai-Cimatec; por trás desse sistema coordenado, está um punhado de pesquisadores munidos de boas e importantes questões que o multiprocessamento acelerado de dados pode ajudar a responder com mais rapidez. Essa é certamente uma descrição possível do que vem a ser o Centro de Integração de Dados e Conhecimentos para Saúde, o Cidacs, a ser inaugurado na próxima quarta, 7 de dezembro.
Ela não é, entretanto, a definição mais justa ou suficiente desse novo centro de pesquisa baseado em integração de grandes bases de dados — “big data” – que, sob o comando do Instituto Gonçalo Muniz da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz-Bahia) e com participação de várias unidades da UFBA e outras instituições nacionais e internacionais, poderá desempenhar um papel decisivo no desenvolvimento de determinados estudos no campo da saúde que envolvem grandes volumes de dados.
Um dos primeiros projetos de pesquisa para o qual o Cidacs vai contribuir em termos imediatos é o “Coorte de 100 milhões de brasileir@s – Plataforma de estudos e avaliações dos efeitos do Programa Bolsa Família e outros Programas de Proteção Social sobre a saúde”, coordenado por Maurício Barreto, professor do Instituto de Saúde Coletiva da UFBA e pesquisador da Fiocruz, que, aliás, vai coordenar também o novo centro de pesquisas.
“Já vínhamos trabalhando nesse projeto da Coorte, um grande levantamento do impacto de programas sociais na saúde da população, e precisávamos vencer dificuldades sérias de infraestrutura para concretizá-lo. Quando começamos a pensar no Cidacs e ver como situá-lo na UFBA ou na Fiocruz, tivemos a oferta providencial da Secretaria de Ciência e Tecnologia em relação ao Parque Tecnológico, e isso foi uma sorte”, conta Barreto.
Ele também festeja a possibilidade de ter instalado o computador de grande desempenho, que o projeto adquirira com os US$200 mil obtidos do programa CT-Infra, da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), no Senai-Cimatec. Lá estava já instalado o supercomputador cuja chegada na Bahia em 2015 foi muito aclamada. “A área do supercomputador é muito fechada, lacrada, mas por sorte já foi feita pensando-se em futuras ampliações”, diz Barreto. Com isso, o computador do Ciacs pode ir para essa área. E, se suas pesquisas crescerem muito, no futuro o Centro poderá certamente recorrer ao supercomputador também.
Um outro projeto importante de pesquisa viabilizado pelo Cidacs é a Plataforma de Vigilância de longo prazo para síndrome da Zika congênita e microcefalia. Some-se a ele outras plataformas voltadas a estudos de questões de equidade e sustentabilidade urbana e seus efeitos na saúde; tecnologias e inovações em sistemas de informação para apoiar os Programas e Ações do SUS; bioinformática aplicada à análise de dados de alto rendimento para saúde; e epidemiologia genômica de coortes Brasileiras – Epigen. Tem-se aí, portanto, um verdadeiro programa de estudos de saúde pública e epidemiologia, sustentado em tecnologia informática na fronteira do conhecimento.
Toda a concepção do Cidacs começou a ser pensada em 2013, e foi em 2014 que o projeto participou de uma chamada do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) com o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação e mais a Fundação Bill & Melinda Gates, com o que se pode financiar alguns custos de instalação. A parte da Fundação foi de US$1 milhão. Há no projeto recursos do Ministério e de vários outros apoiadores, não necessariamente financeiros diretos. Contabilize-se a sede no Parque Tecnológico, o espaço e a infraestrutura no Senai-Cimatec, e mais todo o suporte pessoal e material das instituições de pesquisa participantes.
Em mais detalhes, a iniciativa pioneira associa a Fiocruz-Bahia com a UFBA — via Instituto de Saúde Coletiva, Escola de Nutrição, Faculdade de Economia, Instituto de Física e Instituto de Matemática e Estatística (Departamentos de Ciência da Computação e de Estatística), com a Fiocruz-Brasília e Fiocruz-RJ, a Universidade de Brasília (UnB), a Fundação Getúlio Vargas (FGV) e o Senai-Cimatec. No âmbito internacional, estão também associados a London Scholl of Hygiene and Tropical Medicine e o Farr Institute.
Mariluce Moura para o EDGARDIGITAL