Dirigido por Paulo Cunha, o espetáculo "Dark Times" estreia nesta sexta-feira (19/08), às 19h, no Teatro Martim Gonçalves, cumprindo curtíssima temporada até o dia 28, com apresentações em todos os dias da semana. O espetáculo que é a 50ª montagem da Cia de Teatro da UFBA, apresenta temas da atualidade como crise econômica, desemprego, acentuação das disputas sociais, associações entre política e religião, presentes no texto "A Santa Joana dos Matadouros", do dramaturgo alemão Bertolt Brecht, escrita entre 1929 e 1931, período de crise econômica mundial, faz confundir ficção e realidade.
Ao todo, são 32 artistas em cena, entre nomes como Viviane Laert, Luisa Proserpio, Caio Rodrigo, Dado Ferreira e Kita Veloso. A peça tem assistência de direção da coreógrafa Marta Saback, parceira de Paulo Cunha há cerca de 20 anos em diversas montagens, além de Otávio José Correia Neto, jovem estudante da Escola de Teatro da UFBA. A iluminação é assinada por Eduardo Tudella.
Com direção musical de Luciano Salvador Bahia, o espetáculo incorpora temas de outras peças de Brecht, como fragmentos de "Ópera dos Três Vinténs", além de músicas especialmente compostas para o espetáculo. Os atores se revezam na execução de diversos instrumentos musicais, como piano, baixo, guitarra, teclado, bateria, sax, violino, viola, sanfona e percussão. "A música é muito presente no espetáculo, não apenas as canções, mas as músicas que criam clima, ambiente", complementa.
O cenário, criado por Paulo Cunha em parceria com Erick Saboya, e figurino e maquiagem, assinados por Agamenon de Abreu, exploram cores frias e texturas metálicas, tendendo a uma assepsia pouco comum nas montagens da obra de Bertolt Brecht. "Buscamos não cair no lugar comum dos elementos expressionistas, do sanguinário, animalesco. Isso está tão impregnado na palavra que seria uma redundância muito óbvia ressaltá-lo nos elementos visuais, vindo daí a opção por uma certa assepsia, que a partir do uso de materiais metálicos traz para a cena a qualidade da fria maquinaria do nosso sistema capitalista", conclui Paulo Cunha.
O enredo
A peça narra a trajetória da missionária Joana Dark, que se dedica à distribuição de sopa e pregação religiosa, acreditando assim solucionar os efeitos da crise nos trabalhadores e desempregados. Jovem líder do grupo dos Boinas Pretas, a personagem, interpretada por Luisa Muricy, se transforma a partir do momento em que passa a perceber o complexo funcionamento do sistema capitalista em que vive. Na peça, Joana transita pelos matadouros da cidade, onde trabalham e habitam os pobres, e pela Bolsa de Carnes, espaço em que são feitas as negociatas entre os magnatas do ramo. Ambientada na cidade de Chicago, Estados Unidos, no ano de 1929, a peça destaca as contradições do capitalismo.
"Santa Joana dos Matadouros permite uma reflexão sobre a estrutura política que nos rege, permite o desnudamento deste sistema, mostra que é ele que corrompe as pessoas", comenta o diretor Paulo Cunha sobre os motivos que o levaram à escolha do texto para a encenação. "Esta obra traz uma oportunidade de a gente refletir, de pensar na necessidade de efetuar no Brasil as nossas reformas, reforma política, econômica, eleitoral...", complementa. Segundo Cunha, a peça "Dark Times" é uma recriação da obra a partir de uma dramaturgia cênica que incorpora outras referências do universo brechtiano, como a peça "Ópera dos Três Vinténs", além de poemas de Brecht como "Precisamos de você", "Caçado com boa razão", além do texto "Se os tubarões fossem homens".
"Dark Times" dá continuidade a uma abordagem reflexiva sobre a realidade social e econômica do país já presente em "As Confrarias", primeira montagem dirigida por Paulo Cunha junto à Cia de Teatro da UFBA, que rendeu o Prêmio Braskem de Teatro 2014 nas categorias melhor espetáculo, atriz revelação (Evana Jeyssan), além do troféu de melhor ator para Wanderley Meira, que repete a parceria com Cunha e dá vida, nesta nova montagem, ao magnata do mercado das carnes Pedro Paulo Bocarra.