A pesquisa científica do país precisa avançar no sentido da interdisciplinaridade, da internacionalização e da sustentabilidade, na visão convergente do presidente do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Hernan Chaimovich, da presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Helena Nader, e de Jailson Bittencourt de Andrade, secretário de Políticas e Programas de Pesquisa e Desenvolvimento do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação, (Seped/MCTI, antes da junção com o Ministério das Comunicações).
Os dois primeiros eram os principais convidados da mesa temática “A organização da pesquisa no século XXI”, coordenada por Jailson Andrade, professor do Instituto de Química, no salão nobre da reitoria, dentro da programação do Congresso da UFBA, na sexta feira, 15 de julho.
Helena Nader, que é professora da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), de saída criticou a fusão do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação com o Ministério de Comunicações. “Nós da SBPC não concordamos com a fusão, o que não significa que não dialogamos com o governo interino do presidente Michel Temer”, disse. A junção é questionada pela comunidade científica, entre outras razões, pelas incertezas e cortes orçamentários que a medida acarreta.
Ela tratou em seguida das formas atuais de se elaborar pesquisas, do trabalho individual, passando pelo trabalho em grupo ou em rede, até a interdisciplinaridade, a transdisciplinaridade e a multidisciplinaridade. Observou que o trabalho em grupo, ao reunir pesquisadores de um departamento, de uma mesma área ou de áreas diferentes, normalmente obtém resultados mais precisos se comparados a estudos individuais. Quanto ao trabalho em rede, que torna possível reunir grupos em diferentes locais, com temas amplos e subdivididos por subtemas, citou como bom exemplo desse modalidade os Institutos Nacionais de Ciência, Tecnologia e Inovação (INCTs).
Helena Nader tratou da interdisciplinaridade como um bom caminho para abordar fenômenos que não cabem numa só área de conhecimento. “Para responder às grandes questões no século XXI, temos que ter diferentes olhares e são eles que vão poder trazer respostas ao fenômeno que queremos definir, estudar. Dessa forma, cada disciplina contribui com informações próprias da sua área de atuação”, observou.
Helena Nader ainda reiterou a necessidade de financiamento crescente e contínuo da pesquisa, a ampliação de laboratórios e INCTs, e o compromisso das instituições de ensino superior com o avanço do conhecimento. “Temos que aumentar a internacionalização, e dentro da universidade criar novos modelos de cursos. Ainda estamos com um modelo do século XIX. Precisamos mudar essa forma de ensinar e dispomos hoje de tecnologias que podem contribuir no avanço da educação”, concluiu.
Hernan Chaimovich, professor de química da Universidade de São Paulo (USP), também destacou a interdisciplinaridade e a internacionalização da pesquisa brasileira como caminho para seu avanço. Observou que existe ainda uma certa confusão sobre o termo interdisciplinaridade. “O problema é que é interdisciplinar, não as pessoas, não os cientistas”, disse. Quando um especialista busca conhecer as abordagens de outros profissionais de diferentes áreas para um mesmo problema, a capacidade de comunicar e resolver grandes questões do século XXI aumenta muito, de acordo com sua avaliação.
Jailson Andrade finalizou reiterando que a agenda do século XXI tem como base a sustentabilidade, a interdisciplinaridade e a inovação. “Essa agenda do século exige mudanças significativas no setor empresarial e no setor acadêmico e essas mudanças vão desde uma reconfiguração do ensino fundamental ate o pós-doutorado”, disse. Ele lembrou ainda que a execução da inovação acontece nas empresas, enquanto a produção do conhecimento se dá sobretudo nas universidades e outras instituições de pesquisa. “É preciso inovar para educar, mas antes é preciso educar para inovar”, concluiu