Começou na última terça-feira (20 de março) e vai até o dia 12 de abril, no Salão Nobre da Reitoria da Universidade Federal da Bahia (UFBA), em Salvador − Rua Augusto Viana s/n, Canela −, mais um ciclo de conferências idealizado e dirigido por Adauto Novaes, Mutações: elogio à preguiça. O evento reflete a condenação da preguiça, pelo mundo do trabalho mecânico, e a importância do ócio no desenvolvimento do trabalho intelectual e artístico. Os interessados em participar devem se inscrever no site da Fapex (www.fapex.org.br) e pagar a taxa de inscrição no valor de R$30 e R$15 (estudantes e terceira idade). Com o patrocínio da Petrobras, da FIAT e da Caixa Econômica Federal, o ciclo Elogio à Preguiça é uma realização da Artepensamento, da Casa FIAT de Cultura e do Ministério da Cultura. Conta ainda com o apoio da Embaixada da França e do Institut Français. Na Bahia, é promovida especialmente pela Secretaria de Cultura do Estado da Bahia (Secult) e pela Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da UFBA (FFCH).
A professora Olgária Matos abriu o ciclo, no dia 20, às 19h, com a palestra “Educação para a preguiça”. Ela falou sobre o entendimento entre o campo conceitual em que se inscreve a preguiça na contemporaneidade. Da preguiça como prostração, que sofre o vazio do tempo, à preguiça como tranqüilidade da alma. Já na quarta-feira (21), Franklin Leopoldo e Silva fez uma conferência que começa pelas visões antigas e modernas do trabalho, antes de se apresentar a reflexão sobre as Revêries – Os devaneios de um caminhante solitário, de Rousseau. Oswaldo Giacoia Junior, Antonio Cícero, Vladimir Safatle, Marcelo Jasmin, Jorge Coli, João Carlos Salles são alguns dos demais conferencistas que se apresentam até o dia 12 de abril.
Para Adauto Novaes, a proposta de um ciclo de conferências sobre a preguiça pode parecer estranha. Talvez fosse mais correto refletir sobre seu oposto, o trabalho, uma vez que os sociólogos dizem que nunca se trabalhou tanto como hoje. “Mas, por estar tão próximo e envolvido, de corpo e alma, nas ideias de progresso e na construção da civilização técnica, muitas vezes o trabalhador perde a consciência da sua condição. O mundo do trabalho recebe de cada trabalhador sua força, sua ação e seus impulsos. A existência deste mundo, tal como o vemos, será tão mais potente quanto mais ignorarmos que ele vem de nós, de nosso espírito”, diz. Ainda segundo ele, “a escolha do ocioso não é, pois, arbitrária: ao se por à distância, ele pode ver melhor as contradições e dizer qual o sentido da vida no mundo do trabalho incessante. E talvez dar razão a Albert Camus: ‘São os ociosos que transformam o mundo porque os outros não têm tempo algum’”.
A série sobre as Mutações começou em 2007, com o ciclo Mutações – novas configurações do mundo e analisou de que maneira a ciência e a técnica estão produzindo transformações em todas as áreas da atividade humana; em 2008, Mutações - a condição humana analisou o que é viver neste mundo, dominado pela tecnociência; no ciclo de 2009, o tema foi o vazio do pensamento, em Mutações – a experiência do pensamento; em 2010, o debate foi sobre o papel das crenças ativas e passivas em Mutações – a invenção das crenças.
Programação de palestras, sempre às 19 horas:
Educação para a preguiça, por Olgária Matos (abertura do ciclo) - 20 de março / TER
Rousseau e os devaneios do caminhante solitário, por Franklin Leopoldo e Silva - 21 de março / QUA
Dizer sim ao ócio ou “Viva a preguiça!”, por Oswaldo Giacoia Junior - 22 de março / QUI
Poesia e preguiça, por Antonio Cicero - 26 de março / SEG
O esgotamento da ética do trabalho, por Vladimir Safatle - 27 de março / TER
A moderna experiência do progresso, por Marcelo Jasmin - 28 de março / QUA
Sexo, preguiça, bonheur, por Jorge Coli - 2 de abril / SEG
O leitor preguiçoso, por Francisco Bosco - 3 de abril / TER
Sobre inércia e estabilidade, por Luiz Alberto Oliveira - 4 de abril / QUA
Experiência de improdutividade, por Guilherme Wisnik - 10 de abril / TER
Sobre a virtude da lentidão, por João Carlos Salles - 11 de abril / QUA
Da preguiça como metafísica, por Renato Lessa - 12 de abril / QUI