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Projeto Dom Quixote leva assistência a bibliotecas e centros comunitários

Incentivo à leitura para crianças em situação de risco

Miguel de Cervantes escreveu seu magnus opus Dom Quixote no século XVII, considerado hoje o marco inicial dos romances modernos. O livro ironiza as histórias de cavalaria, que já estavam em decadência na época. O fidalgo Dom Quixote de La Mancha, sempre com seu fiel escudeiro Sancho Panza, entrega-se totalmente à leitura desses romances e passa a acreditar que é um grande cavaleiro andante. Na Bahia contemporânea, o projeto de extensão que leva o nome do livro de Cervantes busca democratizar o acesso à leitura dando assistência à bibliotecas e centros comunitários, com materiais, formação de pessoal e voluntários, e já atingiu centenas crianças e adolescentes em seis diferentes locais de Salvador.

Criado em 2009, o Dom Quixote foi apresentado pela professora Fernanda Almeida, hoje coordenadora-geral, à superintendência do Sistema Integrado de Bibliotecas da UFBA (Sibi) e à Pró-reitoria de Assistência Estudantil (Proae), que aceitaram o projeto e o mantêm até hoje. Para a professora, “a partir de uma educação autônoma, é possível mudar uma realidade”. O Dom Quixote foi idealizado como um projeto tanto educacional quanto político. “É muito difícil trabalhar a diferença cultural, pois existem grupos historicamente isolados no Brasil, devido a uma limitação no processo de comunicação. A palavra é um elemento político de extrema importância. É necessário se expressar bem para poder ser ouvido”, explica Fernanda.

As bibliotecas comunitárias surgem como quilombos, espaços de resistência. “Existe uma realidade sociocultural muito desigual na sociedade brasileira, mas, ao mesmo tempo que isso existe historicamente, existe também um processo de resistência”, comenta a professora. Por serem espaços de resistência e (sobre)vivência, as bibliotecas e centros necessitam de um apoio especial para que possam continuar a impactar a realidade em que estão inseridas. Para atingir esse objetivo, o projeto sustenta-se em quatro pilares: apoio material a bibliotecas comunitárias, formação de agentes bibliotecários, formação de estudantes universitários e atuação nas bibliotecas apoiadas. A assessoria é feita através do repasse de acervos e doações e material bibliotecário, como fichas de catalogação e organização. Além desse material, também são realizadas atividades de formação de pessoal com os funcionários das entidades.

Os bolsistas da UFBA que são enviados para as bibliotecas e centros são uma parte importante do projeto e representam a real aproximação entre a população e a comunidade universitária. Eles trabalham sempre no mesmo local, de 8 a 12 horas por semana, no desenvolvimento de cultura, artes e autonomia, com o público desses locais. Os voluntários têm a missão de “transformar a transmissão do conhecimento em algo prazeroso, mas também reflexivo, e propiciar autonomia ao educando”, explica Fernanda.

“Estou no Dom Quixote há quase um ano, trabalhando em campo desde março e desenvolvo atividades de leitura e escrita com as crianças. Faço licenciatura e queria vivenciar o que é o ambiente de sala de aula, que é tão desafiador. Cada criança é uma história e cada história tem suas particularidades e dificuldades” explica a estudante de biologia e bolsista do projeto Lorena Costa.

Um fator muito importante é a variedade de formação dos voluntários e as consequências disso. Os bolsistas são estudantes de cursos como, por exemplo, engenharia química, direito, bacharelado interdisciplinar em humanidades, letras, fonoaudiologia e pedagogia. Essa multidisciplinaridade enriquece e traz ao projeto diferentes visões, que se complementam. “O incentivo à leitura e trabalho da consciência crítica do estudante universitário não é visto em alguns cursos. O objetivo é fazer com que os estudantes da universidade conheçam outras realidades”, explica Dejeane Lima, coordenadora pedagógica do projeto.

Os bolsistas têm um período de formação semanal, todas as sextas feiras, onde trabalham com temas diversos, “para que entendam e tenham uma visão consistente dessa questão social e possam se inserir nas comunidades com mais segurança”, explica a professora Fernanda Almeida. Para ela, o espaço universitário é um espaço de produção, reflexão e autonomia. “Os projetos de pesquisa, extensão e formação docente oferecem uma visão mais ampla do social. O estudante também desenvolve a percepção da realidade social em que se insere, para que possa assumir o compromisso de mudar essa realidade”, explica.

Um dos locais contemplados é o Centro Integrado de Assistência à Criança (CIAC), no Alto de Ondina. As crianças vão ao centro no turno oposto ao da escola, para fazerem reforço escolar, atividade física e atividades propostas pelo Dom Quixote. A professora e pedagoga do CIAC Adelice de Santana acompanha o projeto desde a sua implementação. “Desde o início do projeto, há uma melhora constante. As crianças desenvolveram a leitura, a escrita e principalmente o trabalho em grupo”, comenta.

O grupo pretende continuar a trabalhar a reflexão e comunicação, para que o público das bibliotecas, centros comunitários e escolas sejam ouvidos e possam sair da invisibilidade. Além disso, o projeto também quer criar novas parcerias, diversificando as ações. A mais nova parceria do Dom Quixote é a Creche da UFBA e irá consistir em um reforço interno na universidade. As crianças e bebês que frequentam a creche terão o apoio do projeto, que contribuirá reforçando o lazer e o desenvolvimento cognitivo.

 

 

Fonte: EdgarDigital