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Doses de reforço da vacina são fundamentais, alerta Comitê de Assessoramento do Coronavírus da UFBA

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O monitoramento da pandemia da Covid-19 aponta aumento do número de novos casos nas últimas semanas, provavelmente relacionado ao incremento do turismo e dos festejos no período junino. Os dados relacionados a internações e mortalidade pela doença, embora também tenham aumentado, felizmente não acompanham a mesma tendência acentuada de alta, em função da cobertura vacinal já alcançada. Entretanto, uma parcela significativa da população (especialmente crianças) ainda não completou o ciclo vacinal básico, e grande parte das pessoas não tem mantido atualizadas as doses de reforço (terceira ou quarta) – o que favorece a circulação do vírus, deixando de evitar hospitalizações e mortes. “Não há outro meio mais efetivo de reduzir o risco de doença grave e óbito pela Covid-19 que não seja a vacinação, incluindo a dose de reforço a cada quatro a cinco meses da última dose”, constata a mais recente nota técnica do Comitê de Assessoramento do Coronavírus UFBA – na íntegra, a seguir.

 

EVOLUÇÃO RECENTE DA COBERTURA VACINAL CONTRA A COVID-19 NA BAHIA E EM SALVADOR – Nota do Comitê de Assessoramento do Coronavírus na UFBA

 

Esperava-se uma forte retomada da vacinação contra o vírus SARS CoV-2 a partir do início da onda mais recente da pandemia da Covid-19, que atinge todas as regiões brasileiras desde a última semana de maio de 2022, por meio da intensificação do programa de informação e da ampliação do acesso à vacinação. Não foi o que ocorreu. Ao contrário, desde que o Ministério da Saúde declarou o encerramento da Emergência em Saúde Pública de Importância Nacional (ESPIN), em decorrência da pandemia, através da Portaria 913/2022, com vigência a partir de 22 de maio de 2022, o que se viu foi a suspensão das iniciativas que facilitavam o acesso à vacinação, bem como de outras medidas protetivas, a exemplo da obrigatoriedade do uso de máscara em ambientes fechados ou com aglomeração e da exigência de distanciamento social.

A quarta onda da pandemia da Covid-19 segue desde então, com aumento do número de novos casos confirmados e óbitos em todo o país, que vem sendo agravada em consequência dos movimentos turísticos e aglomerações das festividades juninas, sobretudo no Nordeste. Na Bahia, passou-se de 1.411 novos casos e 16 óbitos pela doença na Semana Epidemiológica/SE 22 (29/05 a 04/06/2022) para 26.053 novos casos e 32 óbitos na SE 27 (03 a 09/07/2022). Em Salvador, atingida também pela quarta onda da pandemia, os registros são: 537 novos casos e 7 óbitos na SE 22 que cresceram para 2.630 novos casos e 1 óbito na SE 27[1]. A esses aumentos na frequência de novos casos corresponderam a elevação do número de internações hospitalares pela Covid-19 em leitos de enfermaria e UTI para adultos e crianças. Com efeito, na Bahia, a média (7 dias) de pessoas internadas por Covid-19 em enfermaria aumentou de 11,6 na SE 22 para 93,9 na SE 27 e em leitos UTI-adulto aumentou de 29,6 para 104,9 no mesmo período[2].

As evidências científicas demonstram inequivocamente que a vacinação contra Covid-19 reduz o risco de infecção e, principalmente, a ocorrência de casos graves, hospitalizações e óbitos. Dados do CDC (EUA), entre 22/05/2022 e 12/06/2022, indicam que para pessoas com 50 anos e mais de idade, o risco de infecção pelo vírus SARS CoV-2 foi 4,2 vezes maior, e o de óbito, 7,6 vezes maior no grupo não vacinado, quando comparado ao grupo que realizou a vacinação completa com uma dose de reforço. Esses mesmos dados apontam a efetividade da vacina do tipo mRNA contra a Covid-19 de 86% em adultos, na prevenção de hospitalização pela variante Ômicron em 2022[3].

Logo, diante do recrudescimento da pandemia, seria esperado que o incentivo à vacinação completa (duas doses ou dose única) e ao reforço vacinal fosse promovido amplamente, reduzindo o impacto da pandemia sobre a morbidade e mortalidade evitáveis pela doença. Em contraste, dificuldades de acesso à vacinação são relatadas e a cobertura vacinal tem aumentado muito lentamente.

Nos gráficos a seguir, se pode examinar em detalhe a evolução recente da vacinação contra a Covid-19 na Bahia e em Salvador[4]. Compara-se a proporção acumulada de pessoas vacinadas (número acumulado de doses administradas dividido pela população alvo, por dose e grupo etário), calculada para os dias 04/06/2022 e 17/07/2022, portanto, para um período de 43 dias, que coincide com o início e evolução da quarta onda da pandemia.

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Na Bahia, comparando-se os dados de cobertura vacinal contra a Covid-19 de 04/06/2022 e de 17/07/2022, nota-se que o grupo infantil (5 a 11 anos) teve a maior variação positiva na administração da segunda dose. Todavia, a cobertura ainda insuficiente da primeira dose (67,1%) deixa esse grupo etário em situação de vulnerabilidade à infecção e doença pela Covid-19, conquanto pelo menos 485 mil crianças da população alvo, de 1.476.908, ainda não tomaram a primeira dose da vacina. Para o grupo etário de 12 anos e mais, a vacinação completa (duas doses ou dose única) ainda não alcançou 85% da população alvo. Dessa maneira, estima-se que aproximadamente 1,9 milhão de pessoas ainda não completaram a vacinação. Quanto à primeira dose de reforço, a cobertura aumentou somente cinco pontos percentuais entre as duas datas estudadas e ainda se encontra em patamar muito baixo.

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Em Salvador, os registros de doses aplicadas apresentam o mesmo padrão observado na Bahia. Porém, ressalta-se que a cobertura vacinal de crianças de 5 a 11 anos é inferior ao alcançado no estado, sobretudo para a segunda dose da vacina. Para as pessoas de 12 anos e mais, a vacinação com a primeira e segunda doses ainda é insuficiente para uma adequada cobertura. Calcula-se que 385 mil pessoas, da população alvo de 2.507.100 com 12 e mais anos de idade, não completaram o esquema vacinal básico. Quanto a primeira dose de reforço, o desempenho em Salvador é melhor que na Bahia, com incremento de sete pontos percentuais na cobertura vacinal entre as duas datas estudadas, porém, ainda relativamente baixa para a necessidade de prevenção que se deseja alcançar.

Não há outro meio mais efetivo de reduzir o risco de doença grave e óbito pela Covid-19 que não seja a vacinação, incluindo a dose de reforço a cada quatro a cinco meses da última dose. Na pandemia da Covid-19 a vacinação específica salva vidas. O recrudescimento da pandemia no Brasil e na Bahia requer ação rápida, ampla e intensiva para oferecer, promover e atrair a população para a vacinação completa contra a Covid-19. Isso precisa ser feito imediatamente, para que possamos enfrentar a quarta onda desta pandemia com menor impacto possível sobre a mortalidade evitável e em hospitalizações pela doença. E não é pouco dizer que hospitalizações no SUS utilizam recursos públicos, que já estão reduzidos pelas restrições orçamentárias impostas sobre as funções da saúde e educação públicas e sobre os investimentos em ciência e tecnologia.

A UFBA segue alertando a comunidade que atua em suas dependências da necessidade de manter a vacinação em dia, requisito exigido para as atividades presenciais, conforme Resolução 03/2022 do Conselho Universitário, protegendo e promovendo a saúde. E, nesse sentido, permanece à disposição das autoridades sanitárias competentes para abrigar postos de vacinação contra a Covid-19, como o fez em 2021, quando cedeu espaço para a instalação de 10 tendas de vacinação pela Prefeitura Municipal de Salvador no campus de Ondina.

18 de julho 2022

Comitê de Assessoramento do Coronavírus UFBA

[1] Dados sobre casos confirmados e óbitos pela Covid-19 disponíveis em: https://covid.saude.gov.br/

[2] Dados sobre internações hospitalares pela Covid-19 disponíveis em: http://www.saude.ba.gov.br/temasdesaude/coronavirus/boletins-diarios-covid-19/

[3] Resultados de monitoramento e estudos do Center for Disease Control and Prevention (CDC-EUA) sobre a pandemia da Covid-19 disponíveis em: https://covid.cdc.gov/covid-data-tracker/#rates-by-vaccine-status

[4] Dados sobre vacinação contra a Covid-19 disponíveis em: https://bi.saude.ba.gov.br/vacinacao/