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Crise da modernidade neoliberal na perspectiva do cinema é tema de debate

Mesa foi coordenada pelo professor Jorge Luiz Bezerra

Atentado em Nice na noite da quinta feira, 14 de julho, violência urbana, déficit público, diversas formas de ataque diário e atos de extrema barbárie seriam indícios da falência do modelo neoliberal na modernidade? A mesa coordenada pelo professor Jorge Luiz Bezerra discutiu no primeiro dia de palestras do Congresso de 70 anos da UFBA a manutenção desse modelo em paralelo à necessidade de visibilidade do homem contemporâneo.

O debate ocorreu no PAF 1 com a participação dos orientandos do professor e mestres da área de cinema e história, Catarina Cerqueira, Elisabeth Rodrigues, Altair Reis e Ricardo Garrido. Segundo Altair Reis, o cinema é um mecanismo capaz de retratar a realidade e demonstrar a barbárie do mundo. Diversos filmes e documentários foram abordados pelos palestrantes, como “Tropa de Elite”, objeto de estudo de Elisabeth Faro, e os documentários “O fantasma de Abu Ghraib”, “Fantasmas de Ruanda” e “Notícias de uma guerra particular”.

De acordo com a análise de Jorge Luiz Bezerra, “vivemos na confluência dos tempos”. Modernidade é uma denominação dada por alguns pesquisadores ao tempo marcado pela Revolução Industrial, entretanto há ainda denominações como pós-modernidade e modernidade líquida, citadas pelos conferentes, indicando que não há um consenso no campo sobre que tempo é este em que vivemos. Há, no entanto, uma unanimidade entre os participantes da mesa de que o sistema está em crise. “Nós consideramos estar vivendo em um mundo profundamente em crise. Ouso prognosticar que estamos vivendo a última fase do capitalismo porque não conseguimos vislumbrar uma saída estrutural para ele”, observou o professor.

Elisabeth Rodrigues discutiu a necessidade que o sistema capitalista tem das atividades informais para se manter. “Ele não consegue se sustentar somente em atividades formais”. Assim, a corrupção e a venda de drogas seriam necessárias para a manutenção do neoliberalismo.

Paralelo ao modo de organização social está o homem contemporâneo: instantâneo, individualizado e submetido à lógica da visibilidade. “O vazio da sociedade capitalista fetichiza as relações humanas”, avalia Catarina Cerqueira. Mestre em ciências sociais, ele perguntou à plateia que lotava a sala quantos dos presentes teriam álbum de fotografia. O silêncio imperou. Viu, em seguida, os mais de 80 presentes levantarem as mãos quando indagou quantos teriam foto no celular. O reino das aparências e a necessidade do registro foram demonstrados praticamente pela professora com o singelo experimento. 

Já Ricardo Garrido levantou questões sobre as redes sociais “Vivemos em um mundo onde o excesso de individualismo predomina, embora, paradoxalmente, pareça pelas redes sociais que existe um grande laço interconectando as pessoas”.

 Se a atual fase do capitalismo for realmente a última, resta o questionamento de qual seria o próximo modelo social. “Não vejo sentido em bradar a necessidade do socialismo ou comunismo de antigamente como alternativa. Estamos vendo o quanto o capitalismo é antidemocrático, a defesa da democracia é por si anticapitalista e só pode se realizar realmente através de uma forma de resistência social que supere esses modelos”, concluiu Jorge Luiz Bezerra.